Floripa, 12/X/02

Adoro Empresas do Estado

Três coisinhas me lembraram da CASAN, a minha preferida fornecedora d'água quase potável. Vi em algum lugar a informação que os catarinenses amam e confiam na CASAN, CELESC e Correios. Isso me deixou muito preocupado pois até agora não tive problemas sérios com os Correios e se os Correios entrassem nesse seleto Grupo dos Pavões, estaria na hora de inventar a entrega de revistas e livros pela Rede – o que até hoje está sendo resolvido por esta simpática empresa federal. Logo depois vi que uma dama estava buscando meu voto para que pudesse viajar à Brasília uma vez por semana mas o partido dela não me cai bem no estômago. Lembrei que ela era antigamente da diretoria do CASAN. Gozado, deve ter uma passagem secreta daquela diretoria àquele partido, e uma passagem bem larga, já que as multidões dos transeuntes não causaram o entupimento. E a terceira vez falou-me da CASAN um amigo, dono de uma serralheria. Contou que irritado com mais um dia de falta d'água no bairro dele ligou a sua preferida fornecedora d'água e disse que está terminando o seu trabalho e nem pode tomar banho. “Pois vá dormir sujo” – sugeriu a simpática secretária da empresa.

Da outra empresa nunca consigo me esquecer, por mais que eu tentasse. Toda semana tenho que reprogramar várias engenhocas que carregam os mini-computadores no seu interior (e lembre que estamos caminhando rumo ao futuro tão computadorizado que a cama lhe aceitará após digitar a data do nascimento e o nome da esposa). Mas há algumas semanas tive um souvenir mais estrondoso. Essa vez não foi o problema do transformador do bairro, emprestado do Museu da Mesopotâmia, mas a morte dos circuitos da engenhoca no portão eletrônico com a visita do raio.

Recebendo a conta da firma que trocou a engenhoca queimada ouvi do funcionário que a CELESC me reembolsará. “Duvido” respondi “quando já tive um problema parecido eles me disseram por telefone que não adianta reclamar pois o raio é uma fatalidade.” “Pois é, as atendentes têm que contar as besteiras, mas você assinou um contrato com CELESC onde eles comprometeram-se de fornecer a energia, né? A energia com voltagem 220 e não 20 mil, correto?” “Corretíssimo. Mas porquê os para-raios não funcionaram?” “Ha, ha, não funcionaram pois não estão instalados. Para eles sai mais barato pagar as indenizações!”

Passou um mês e apareceu em casa uma equipe técnica. Inspecionaram tudo e falaram muito que tudo está errado por causa do fio doze. Não entendi bem a idéia, talvez se tivesse fio dezesseis ou fio quarenta, o raio repensaria o negócio e iria bater na casa dos vizinhos? Seja como for, há um cheiro de pizza no ar.

Mas não devo reclamar, o cheiro de pizza não é ruim. Imagine se fosse o meu cheiro, queimado pelo raio na chegada para a casa, se a chegada coincidisse com a visita do raio. Provavelmente a CELESC anunciaria que foi uma fatalidade e em gesto de profunda simpatia o diretor da empresa emprestaria por duas semanas a sua limusine para levar os órfãos à escola. E a foto dele sairia no jornal - e no futuro no folheto chamado “o santinho”. Um cara humano. Emprestou o carro para a família da vítima.

O que esses babacas têm contra os para-raios? A cidade fica feia? Tiram as verbas dos santinhos? Sei lá. É importante que por enquanto continuo vivo.