Floripa, 20/VIII/02

Andrzej Solecki

A mais longa gravidez do mundo

Um belo dia a linda Fernandinha surpreendeu os vizinhos. Quando a conversa corria solta e alegre sobre os gêmeos na casa do lado, ela anunciou de repente: “os gêmeos é nada. Eu vou ter logo os quíntuplos”. Na hora virou uma sensação do bairro pois desta ninguém esperava dela. A Fernandinha era conhecida de falar, não de fazer. Mas se falou então está falado. Pois é, quíntuplos, porquê não.

Da sensação mudou para o encanto geral quando a Fernandinha anunciou os nomes bem escolhidos dos futuros fofinhos. Quatro meninas e um menino. Fagrica, Fecundafão, Femprego, Faúde e Feguranfa. “Of nómef líndof”, confirmaram os vizinhos, mesmo estranhando um pouco. Mas seria desumano irritar a futura mãe.

Se bem que havia aqueles nojentos que não gostam do progressivo, fecundo e promissor. Espalharam-se os boatos que a gravidez da Fernandinha não iria longe pois ela ligava só pelo latifúndio dela e andava três dias à cavalo só para cruzar a sua fazendona. Mas Fernandinha explicou: é um desentendimento, é apenas um sítio com uma vaquinha. E a vaquinha vai dar leitinho para os futuros nenezinhos. Duzentos intelectuais do bairro assinaram o manifesto que o leitinho é bom para nenezinhos e quem fala de outro jeito da oposição é. Então tá, deixaram as coitadinhas vaquinha e Fernandinha em paz.

Após algumas semanas Fernandinha revelou que para um parto feliz vai precisar de um banquinho. As vizinhas asseguravam que hoje em dia um hospital é bom e confiável, mas Fernandinha disse que ela teve um pé na cozinha e só um banquinho serve para ela. Tudo bem, fizeram uma vaquinha e juntando 25 bi compraram uma jóia de banquinho que qualquer parturiente morreria de inveja.

É verdade que não foi fácil mas a sorte ajudou. Iam vender um banco velho e feio por um bi mas veio um bom senhor da Espanha e pagou seis bi de bom coração. Então tudo deu certo. Ou - quase tudo, pois a gravidez estava indo bem devagarzinho.

No final de terceiro ano da gravidez Fernandinha avisou no bairro: “pessoal, acho que vou precisar mais quatro aninhos”. “Quatro?” – surpreenderam-se as vizinhas – “nossas famílias davam um jeito com nove meses …” “E alguma de vocês já teve os quíntuplos?” – perguntou didaticamente Fernandinha. Estava certa. Só ela quem teve o plano tão lindo.

Os únicos divertimentos nesse período eram as viagens para Paris e Princeton. Havia quem falou que já viu Fernandinha naqueles lugares na vida regressa e era importante encontrar-se consigo mesma antes de se dividir em seis. É verdade que os senhores Weber e Einstein estavam de férias mas seguramente um dia retornariam a ligação e o mistério de outras reincarnações seria esclarecido.

Tudo estava indo as mil maravilhas e a equipe da Guiness estava de prontidão, mas deu um rolo. A velha parteira não quis voltar das férias na Bahia. A danada teve um jeito muito pessoal e sem ela toda a gravidez perdia o encanto. Então, queira ou não, Fernandinha teve que cancelar a gravidez.

Corria já o oitavo ano e o povo do bairro ficou esperançoso ouvindo que Fernandinha teve algo a dizer. A praça cheia, as pessoas sorridentes, chegou a hora de acabar com a mais longa gravidez do mundo. Um traço de amargura surgiu no lindo rosto da Fernandinha quando ela disse em voz firme, só com um pingo de apreensão:

Esqueçam tudo que eu falei!
Fernandinha não precisava preocupar-se com as consequências da sua fala. Foi uma coisa mais bonita do mundo.

O entusiasmo da praça estava sem fim.