Se você precisasse entrar na Guerra de 30 Anos do século XVII, qual lado
você apoiaria?
A coisa estava tão amarrada e complicada que a atitude sensata é de dizer:
espere um pouco, vou dar uma estudada e depois te respondo. Nem que
seja um desafio teórico, a gente precisa de se inteirar para mais tarde poder
se integrar. Mas no caso prático, quando em jogo estão questões reais,
muitos tomam partido deixando o momento de reflexão para depois se houver
algum
depois um dia.
A greve é uma guerra, sem dúvida, mas quem são os adversários e quem são
os companheiros? Dois sindicatos anunciam a luta do povo unido mas
sempre conseguem deslanchar as greves em datas separadas, com comandos
tão separados que mal se conhecem e com ressentimentos do passado tão
fortes que qualquer ganho de um grupo deixa grande sequela no peito do
outro. Será que isso se chama de companheiro de onça?
A greve é contra a compressão ridícula e ilegal dos salários mas vejo
as bandeiras com dizeres contra FMI e outros grupos poderosos. Junte
às causas a presença norte-americana de Okinawa e o sumiço dos pandas
a já temos um bom material para um programa na Rede Globo. Na terça-feira
a noite.
É uma disputa salarial? Ótimo, a causa me toca profundamente (até o limite
do meu cheque especial) mas quero ver os argumentos que se sustentariam
em uma disputa salarial de qualquer outra instituição do gênero. Se isso
fosse uma (muito boa) universidade particular com estudantes que pagam
R$800 por mês para assistir as aulas, as atitudes e as técnicas grevistas
seriam as mesmas?
Há um papel duplo do governo nesse jogo e é preciso de enxergar
a distinção para evitar o papel de palhaço. Falamos sobre o governo
- empregador? Então a luta poderia ser aqui e agora. Falamos sobre
o governo poder político? Estou muito mais para ser o seu adversário
do que um observador tolerante, mas a escolha do momento de batalha
é mal pensada e o lugar de luta está completamente equivocado.
Já o uso de estudantes como reféns é uma pura tragédia. Qual professor
gostaria que os filhos
dele/dela preparassem o seu futuro
profissional em um lugar com as bibliotecas fechadas escutando os tantãs
em vez de palestras?
Consigo entender os motoristas de linhas interestaduais que anunciam na
cidade: não vá a rodoviaria, as partidas estão canceladas. Estamos em
greve. Agora, se o cidadão me levasse até Registro e as 2:15am me
anunciasse: o pessoal, virem-se, estou entrando em greve ficaria com
sentimentos pouco cristãos. A situação é a mesma do abril e maio, podia-se
discutir tudo em junho e em julho avisar os interessados: Peguem 6 volumes
do
Cavalo de Tróia da biblioteca pois não haverá outros
divertimentos nos próximos meses.
A questão dos companheiros de luta prefiro deixar em branco pois sem
isso já tenho bastante inimigos. Mas porque deveria lutar pelo aumento
de todos por igual? Só porque alguém passou algum concurso parecido ao
meu? Mesmo se mais tarde nunca preparou as aulas dele?
Ninguém fala sobre a luta para igualizar os salários dos novos (dos últimos
10 anos) colegas com os salários das pessoas que têm o mérito de ostentar
o número de matrícula mais antigo. Nenhum sindicato sugere que acamparia
a tese dispensem ruíns, paguem melhor bons. Continua a eterna falta
de cartas e artigos com exposição de argumentos e razões, como se a média
da instrução fosse parecida a um sindicato de estivadores. Naturalmente,
o adversário fica em dúvida: eles não sabem escrever ou não têm argumentos
para expor?
Se prefiro nem falar sobre isso então porque escrevo estas linhas? Bem,
o Centro Acadêmico (C.A.L.M.A.) convocou todos, docentes e dicentes, para
uma assembléia. Pela sua atuação o Centro merece respeito e acho correto
atender ao seu pedido. Vou facilitar para a minha turma a ida para lá,
é bom que eles podem ouvir e podem falar. Acho possível que os
estudantes queiram conhecer a minha posição e plenamente legítimo,
um educador não significa uma fita gravada, eles querem conhecer
a argumentação. Os colegas estudantes em pouco tempo vão se tornar
os colegas educadores e logo terão que assumir as posições deles
em situações parecidas. Mas uma hora de assembléia não é grande coisa
para expor as posições. Um encontro é mais para votar, para pensar
prefiro uma folha coberta de letrinhas. As proposições. Uma oração.
Vai concordar comigo? Mas não é isso que estou procurando. Pode discordar,
quero apenar que você conheça e entenda a minha posição. Quer rebater?
Bem, a Internet é o veículo adequado, quando voltar a funcionar vou por
isso na minha página. Você não tem o seu
site mas quer me rebater?
Tudo bem, haverá a sua disposição um pouco de espaço no meu (escreva
em ASCII ou HTML para andsol@mtm.ufsc.br).