Fpolis, 29/VIII/01

Kadê a festa?

Se você precisasse entrar na Guerra de 30 Anos do século XVII, qual lado você apoiaria?

A coisa estava tão amarrada e complicada que a atitude sensata é de dizer: “espere um pouco, vou dar uma estudada e depois te respondo”. Nem que seja um desafio teórico, a gente precisa de se inteirar para mais tarde poder se integrar. Mas no caso prático, quando em jogo estão questões reais, muitos tomam partido deixando o momento de reflexão para depois – se houver algum depois um dia.

A greve é uma guerra, sem dúvida, mas quem são os adversários e quem são os companheiros? Dois sindicatos anunciam a luta do povo unido mas sempre conseguem deslanchar as greves em datas separadas, com comandos tão separados que mal se conhecem e com ressentimentos do passado tão fortes que qualquer ganho de um grupo deixa grande sequela no peito do outro. Será que isso se chama de “companheiro de onça?”

A greve é contra a compressão ridícula e ilegal dos salários mas vejo as bandeiras com dizeres contra FMI e outros grupos poderosos. Junte às causas a presença norte-americana de Okinawa e o sumiço dos pandas a já temos um bom material para um programa na Rede Globo. Na terça-feira a noite.

É uma disputa salarial? Ótimo, a causa me toca profundamente (até o limite do meu cheque especial) mas quero ver os argumentos que se sustentariam em uma disputa salarial de qualquer outra instituição do gênero. Se isso fosse uma (muito boa) universidade particular com estudantes que pagam R$800 por mês para assistir as aulas, as atitudes e as técnicas grevistas seriam as mesmas?

Há um papel duplo do “governo” nesse jogo e é preciso de enxergar a distinção para evitar o papel de palhaço. Falamos sobre o governo - empregador? Então a luta poderia ser aqui e agora. Falamos sobre o governo – poder político? Estou muito mais para ser o seu adversário do que um observador tolerante, mas a escolha do momento de batalha é mal pensada e o lugar de luta está completamente equivocado. Já o uso de estudantes como reféns é uma pura tragédia. Qual professor gostaria que os filhos dele/dela preparassem o seu futuro profissional em um lugar com as bibliotecas fechadas escutando os tantãs em vez de palestras?

Consigo entender os motoristas de linhas interestaduais que anunciam na cidade: “não vá a rodoviaria, as partidas estão canceladas. Estamos em greve”. Agora, se o cidadão me levasse até Registro e as 2:15am me anunciasse: “o pessoal, virem-se, estou entrando em greve” ficaria com sentimentos pouco cristãos. A situação é a mesma do abril e maio, podia-se discutir tudo em junho e em julho avisar os interessados: “Peguem 6 volumes do Cavalo de Tróia da biblioteca pois não haverá outros divertimentos nos próximos meses”.

A questão dos companheiros de luta prefiro deixar em branco pois sem isso já tenho bastante inimigos. Mas porque deveria lutar pelo aumento de todos por igual? Só porque alguém passou algum concurso parecido ao meu? Mesmo se mais tarde nunca preparou as aulas dele?

Ninguém fala sobre a luta para igualizar os salários dos novos (dos últimos 10 anos) colegas com os salários das pessoas que têm o mérito de ostentar o número de matrícula mais antigo. Nenhum sindicato sugere que acamparia a tese “dispensem ruíns, paguem melhor bons”. Continua a eterna falta de cartas e artigos com exposição de argumentos e razões, como se a média da instrução fosse parecida a um sindicato de estivadores. Naturalmente, o adversário fica em dúvida: “eles não sabem escrever ou não têm argumentos para expor?”

Se prefiro nem falar sobre isso então porque escrevo estas linhas? Bem, o Centro Acadêmico (C.A.L.M.A.) convocou todos, docentes e dicentes, para uma assembléia. Pela sua atuação o Centro merece respeito e acho correto atender ao seu pedido. Vou facilitar para a minha turma a ida para lá, é bom que eles podem ouvir e podem falar. Acho possível que os estudantes queiram conhecer a minha posição – e plenamente legítimo, “um educador” não significa “uma fita gravada”, eles querem conhecer a argumentação. “Os colegas estudantes” em pouco tempo vão se tornar “os colegas educadores” e logo terão que assumir as posições deles em situações parecidas. Mas uma hora de assembléia não é grande coisa para expor as posições. Um encontro é mais para votar, para pensar prefiro uma folha coberta de letrinhas. As proposições. Uma oração.

Vai concordar comigo? Mas não é isso que estou procurando. Pode discordar, quero apenar que você conheça e entenda a minha posição. Quer rebater? Bem, a Internet é o veículo adequado, quando voltar a funcionar vou por isso na minha página. Você não tem o seu site mas quer me rebater? Tudo bem, haverá a sua disposição um pouco de espaço no meu (escreva em ASCII ou HTML para andsol@mtm.ufsc.br).

Dr.Andrzej Solecki
professor titular
MTM/CFM