Líderes espirituais

Ví ontem na TV cenas da ONU - encontro de líderes espirituais de mais variadas religiões. É para trazer a paz para o mundo.

Os comentadores destacavam a falta na reunião do Dalai Lama. É preciso ser sofisticado e por dentro do assunto para que vendo as imagens constate-se na hora: ``oh, está faltando o Dalai Lama!''. Como sou simples e por fora do assunto, nunca conseguiria fazer esta observação mas imediatamente notei uma outra falta: não havia lá mulheres. Não sou mulher, nem procuro o voto feminino em eleição alguma, mas essa seleção impressiona-me como o matemático: dividimos todos os adultos do mundo em duas partes e mandamos para a nobre reunião uma amostra tirada de uma delas.

Estou propondo algumas hipóteses que poderiam explicar esse fenômeno.

• As mulheres não vieram pois na hora de encontro as mulheres dos líderes espirituais estão na cozinha preparando almoço.

• Para discursar e optar pela paz o grupo tem que ter alguma culpa no cartório. Em geral mulheres não são boas para iniciar um conflito global ou promover uma vistosa matança. Há algumas exceções, sim, como a nossa Anita Garibaldi. Por isso tais grupos como As filhas da Anita estão representados na reunião. Por exemplo o grupo mencionado é dignamente representado por um sobrinho do Antônio Carlos Magalhães.

• Havia, sim, uma pressão chinesa para excluir o Dalai Lama. Mas a ONU é soberana e conciliadora e convocou um representante do Brasil para por os panos quentes no assunto. O nosso especialista em ``deixa pra lá'' estudando a questão notou que, quando jovem, o Dalai Lama não teve saco para matar os soldados chineses. O expert sugeriu uma solução hábil: proibindo uma participação de pessoas sem saco resolve-se o problema de Dalai Lama e de banheiros separados no recinto. A sugestão foi prontamente abraçada pelo corpo de 30 sub-diretores gerais da ONU (todos com sacos em ordem).

• É uma questão puramente anatômica: mesmo sem um bom encosto um homem pode tranquilamente dormir na cadeira tanto tempo quanto for exigido dele. Por causa de seios alocados frontalmente nenhuma mulher aguentaria dormir nesta posição durante dez horas de debates diáros. Para dormir, o lugar da mulher é na cama.

Se quiser, pode enviar aqui as outras hipóteses. Favor, não esqueça de mandar uma cópia para o endereço:

Primeira Dama
do Presidente da ONU
Palácio da ONU, fundos
NY, NY, USA

---

Deixando do lado o sarcasmo: há mulheres na reunião, pouquissimas, mas estão lá, sim. E em várias religiões há uns sinais de mudança de atitudes. Mesmo assim, não vejo por onde entrar com um otimismo. O motivo: a Carta de Nações Unidas não foi assinada (entre os outros não-assinatários) pela Arabia Saudita. Porque? Para esses defensores e expoentes da religião muçulmana era abominável o artigo sobre os direitos iguais de homens e mulheres. Passaram-se mais de 50 anos mas nenhuma personalidade do mundo muçulmano fez alguma expiação, pediu perdão ou anunciou uma modificação de interpretações do Alcorão ...

Por sinal, você acredita em ``Mundo com Acesso Público aos Conhecimentos'', em ``Supervia de Informação'' e blá-blá-blá sobre a Internet? Então indique-me, por favor, onde está escrita essa estória de votação da Carta de Nações Unidas? Como conferir se não é a minha invenção? (Uma viagem à Nova Iorque para ver a ata da primeira assembléia seria uma solução, mas meio tradicional...)