Floripa, 20/II/05

Andrzej Solecki

Trote na UFSC

ou

quem gosta de bancar idiota

Caro Calouro,

Você acaba de chegar aqui? Seja bem vindo. Você tem muita vontade de conhecer rapidamente os lugares e os costumes, as regras e os divertimentos. Claro. Assim é a nossa construção, somos os animais gregários, isolamento associa-se com um castigo.

Mas você estará um pouco isolado. Não somente por passar dias em uma ilha. A sua ascenção profissional vai ter uns elementos de afastamento das coisas rotineiras; mesmo se você voltar às peladas e as companhias dos colegas da escola, você estará mais e mais uma parte da elite nacional. Isso soa ameaçador? Mas é uma simples realidade. Lembre-se quantos brasileiros estudam nas universidades da qualidade da UFSC.

Pois bem, você não sabe quem é quem, e aparece na sala de aula um colega com ares de autoridade e anuncia: “calouros! Todos tem que aparecer lá ou cá, quem se esquivar vai se arrepender.”

Quem não gosta de brincar da ingenuidade dos recém-chegados … As vezes há nisso um toque de malícia, mas em vários cursos o trote é simpático e de fato instrutivo. Ou, pelo menos, divertido.

Mas se você vai lá e descobre que tem que fazer uma série de coisas que não são do seu agrado, como reagir? O organizador do trote anuncia que você tem que se vestir de idiota, pintar o cabelo com ovos e farinha, pedir uma esmola no balão da UFSC. E aí, o que deve-se fazer?

A pergunta tem uma resposta muito simples. Use a sua cabeça. Responda a si mesmo:

Ah, você gosta de um pingo de humilhação? Pois bem, há neste mundo espaço para sádicos e para masoquistas. Se for a sua opção conciente, fique a vontade. Mas feche-se em um clube com os seus dominadores. Fazer papel de um idiota em plena luz do dia é um espetáculo degradante também para os que passam por aí e tormam-se os espectadores involuntários.