Perguntas de 1% do semestre 01.1
A lista das perguntas |
Terceira pergunta, 15/III/01 |
Quatro pessoas responderam todas elas corretamente: Ana Lúcia,
Dörthe (Fundamentos I), Rodrigo Caetano, Rodrigo Maciel (Geometria
Analítica).
A frase significa Um basta para fazer tudo do nada. (Gostei da
proposta da tradução da Dörthe: Do nada ao tudo, um é
suficiente, se bem que isso é mais uma variação do que tradução.)
Surgiu quando Gottfried Wilhelm Leibniz percebeu que a sequência
1 10 11 100 101 110 111 1000 etc
descreve de modo organizado (que hoje chamamos de sistema
binário ou sistema posicional na base 2) todos os números
naturais. Parecia então que achou aquele átomo de qual podia
construir a matemática.
A redução de toda e qualquer atividade para uma sequência de dois estados: 1
(há sinal) e 0 (não há sinal) é a base do funcionamento do computador? Pois
é, Leibniz formulou as idéias que eram precursoras dessa redução, foi ele
quem tentava decompor os raciocínios em poucos átomos de
comunicação.
(De onde uma das pessoas tirou a informação sobre von Leibniz?
Sim, ele se tornou Freiherr (barão?) mas nunca encontrei sugestão
qualquer que esta nobilização tornava-o von
)
Evitei aqui a palavra descoberta? Sim. Não é por acaso, tenho uns
motivos para dar preferência ao termo invenção. É não é uma pequena
modificação linguística, mas hoje não vou embarcar na conversa sobre isso.
Talvez você queira dar uma pensada sobre o assunto? Valerá muito mais do
que ouvir as minhas explicações
Leibniz foi o primeiro inventor do sistema binário? Não é muito sensata a
nossa mania de cronometrar a chegada dos cientista na meta do sucesso, como
se fosse uma corrida de 100m. Aparentemente, antes do trabalho dele não
havia uma reflexão escrita, formalizada e aprofundada sobre esta construção
mas
como os estudantes de Fundamentos I vão ver em poucas
semanas, há uma técnica de multiplicação de números naturais, chamada de
multiplicação de camponeses russos que consiste efetivamente em
transcrição de um dos fatores para a notação binária. Seria o caso de uma
viagem da idéia de Leibniz para os estepes da Rússia? Tecnicamente isso não
seria impossível afinal, os linguístas afirmam que o
livro russo (kniga) veio do antigo livro
sagrado chinês (king). Mas parece que essa técnica de
multiplicação é de mais longa data e além disso os camponeses da
Etiópia ficariam admirados que há algo russo no modo de calcular que usa-se
na terra deles desde os tempos perdidos na memória.
Ah, não peça o seu pai ou a sua avô confirmar esta informação.
Etiópia livrou-se de colonizadores uns 20 anos mais cedo que outros países
africanos, mas não se percorre em pouco tempo todo processo desde
construção das universidades até colheta dos resultados de pesquisas
matemático-antropológicas. São as informações provenientes de pesquisas
razoavelmente recentes.
Também tão ridiculizada incapacidade de tribos africanas de
contar além de dois (por sinal, você chamaria de tribo uma
aglomeração que contém 20 ou 30 milhões de pessoas? Por exemplo: tribo
argentina?) revelou-se para pesquisadores que conheciam as línguas Bantu uma
clara e inequívoca demonstração de uso na vida cotidiana de sistema binário.
O que parece mais sensato: assumir que Leibniz teve emissários que viajaram
no espaço e no tempo ou repensar um pouco o negócio de
descobertas e invenções?
Em questão de átomos da matemática, 200 anos mais tarde o famoso
ditado de Leopold Kronecker (Bom Senhor fez os números inteiros e todo
resto e a obra das mãos do homem) sugeria que não a notação binária
mas o conjunto Z é o bloco básico na construção da matemática. E qual
seria a atitude de visionários de hoje? Algum outro conjunto? Talvez o
conjunto vazio? Outro tipo de conceito?
Não conheço muitas tentativas de expor visões desse tipo ao julgamento do
povo matemático quem se disporia de arriscar muito em troca de nada?
mas lembro-me do artigo de Paul R.Halmos (Does Mathematics Have
Elements?, The Mathematical Intelligencer, 4 (1981), 147-153) que nota
a onipresença de certas construções e conceitos (progressão geométrica,
estrutura quociente, primos, função exponencial) em várias áreas da
matemática.
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Quarta pergunta, 22/III/01 |
Não somos perigosos?Quem foi o autor que recusou para a gente a máscara de poder e perigo? |
A resposta: trata se da peça Os Físicos do dramaturgo suiço
Friedrich Dürrenmatt.
Houve só uma resposta (correta) da Dörthe, turma de Fundamentos I.
Subject: perguntas de cunho matematico Professor, perguntas de caracter historico sao interessantes, mas acho que o senhor deveria nos questionar sobre matematica. Por exemplo: sobre definicoes, calculos, teoremas, de modo que possamos pensar e nao sair por ai pesquisando sobre historia. Muitas vezes, se perde tempo pesquisando que pensando. Por isso peco encarecidamente que mude o seu enfoque. Matematicos por final pensam. Esta e a minha opiniao . Atenciosamente , ....Falando sobre história (de algumas décadas atrás): quando nos meus tempos de estudante eu decidia desafiar os costumes e autoridades, caprichava muito mais tanto em questões de estilo quanto de qualidade de argumentos. Além disso não esquecia do trabalho inicial de tentar entender qual é mesmo o nome do jogo, quais são os jogadores, regras e prêmios. Só isso em forma de crítica do texto. Por sua fragilidade ele me deixa em posição de excesso de vantagens e com isso obriga a muita moderação e cuidado. Procurando dar todo o crédito possível ao autor tenho que me lembrar que é uma carta assinada com o próprio nome da pessoa. Além disso deve se tratar de reflexões discutidas em algum grupo e só esta pessoa decidiu expor as suas inquietações. Ponto para ela. A primeira observação marginal. O uso do indicativo do presente é muito sugestivo mas não constitui um argumento por si mesmo. Você acha que há um conflito entre as perguntas de caráter histórico e o tempo para pensar e eu não vejo isso assim. Pelo contrário, nunca esqueci o sentido (se bem que não me lembro a formulação exata) da máxima do George Santayana (professor de filosofia em Harvard 100 anos atrás): quem não conhece a história está condenado a revivê-la. (Acho que ele falou sobre povos.) Isso não foi um jogo de palavras mas uma ameaça. A segunda observação: você não faz perguntas de cunho matemático; não são perguntas mas postulados (exigências? pedidos?) e não são de cunho matemático mas filosófico. Ah, porque respondo neste espaço? Por um motivo óbvio: somente nestes textos, nos diretórios reservados as perguntas de 1% e perguntas de 3% coloco perguntas de carácter histórico. O motivo principal de separá-las do lugar onde ficam as discussões de provas, materiais sobre cálculo de proposições etc. era justamente o cuidado para que alguém não se confunde pensando que isso faz parte do curso ou constitui uma matéria obrigatória. Quer entrar na trilha que indico? Boa sorte e tenha em vista que o prêmio pode compensar parcialmente as falhas das notas obtidas no curso. Não quer? Certo. Talvez seja um desafio grande demais para o seu preparo, talvez não tenha sabor do seu passatempo preferido. Sim, em minhas aulas uso as referências históricas na medida de meus magros conhecimentos e quando disponho do tempo para isso. Mas são os meus comentários e sugestões e nunca exercícios que obrigariam os estudantes de mergulhar em pesquisas históricas. Algumas dessas observações constituirão material obrigatório para estudantes, algumas levarão apenas uma sugestão: se quer entender porque havia violentas disputas acerca de noções matemáticas, aqui é uma das possíveis causas. Para adicionar um pouco de concretos, já que sem eles a teoria tende tornar-se um papo furado: a história de assasinato de Hippasus por causa da divulgação da irracionalidade da raíz de 2 vai ser relatada no curso de Fundamentos I como um fenômeno muito importante mas não haverá minha insistência que os estudantes memorizem o fato e saibam relatá-lo na prova. A análise da interpretação inovadora do teorema de Tales introduzida pelo Descartes constitui uma parte obrigatória do curso de Geometria Analítica é o único salvaguarda que eu vejo contra a disseminação de besteiras do tipo Descartes inventou o sistema de coordenadas. Uma das possíveis interpretações do pedido de questionar sobre definicoes, cálculos, teoremas (além do que eu questiono dentro do curso conforme o plano de ensino, imagino eu) é que há pessoas que poderiam estar interessadas em desafios parecidos às perguntas de 1% mas no caso estritamente técnico dentro de uma das áreas da matemática. Mas não vejo como compatibilizar isso com a minha idéia original. Dentro da matéria ensinada? Não estaria disponível para ambas as turmas e ficaria misturado com o material obrigatório dentro do curso. A graça desses desafios é justamente que independem do curso número tal e tal, podendo interessar um círculo maior de pessoas. Además, há um espaço para um aprofundamento de conhecimentos específicos de matemática: programas de PET, projetos de iniciação científica, orientação de um curso extra-curricular A frase Muitas vezes, se perde tempo pesquisando que pensando permite duas interpretações. A primeira mais fácil e um pouco maliciosa é que as pessoas não acostumadas a ler esperneiam quando alguém as incentiva de mergulhar em textos que não são de óbvia e imediata utilidade. A segunda interpretação, mais compreensiva, começaria com esta tentativa de reformulação: quando a busca da informação é muito trabalhosa pode faltar tempo para usar a informação. Este enfoque revelaria a faceta muito complicada do problema, pois aponta às questões de todo relacionamento no eixo forma conteúdo. Neste caso seria mais fácil escrever um volume sobre a frase do que responder em poucas (e sensatas) palavras. Mas se for levemente truncada e podada, a frase parece um excelente material para uma das próximas perguntas de 3%. Por enquanto sigo com um programa mais modesto (embora histórico), formulado abaixo. |
Quinta pergunta, 29/III/01 |
Quanto vale uma unha encravada?Como se chama o país em questão? Quem era o ministro? Qual era o mais alto posto que ele já ocupou naquele país? |
A resposta: Aureliano Chaves, famoso por ser o vice-presidente civil do
último presidente militar João Batista Figueiredo, no consecutivo governo
de José Sarney tornou-se o ministro de Minas e Energia.
O incidente relatado aconteceu durante uma greve da Eletrosul.
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Sexta pergunta, 5/IV/01 |
Antes de propor a próxima pergunta coloco aqui algumas informações do
interesse dos estudantes de ambas as turmas (embora mencionadas somente
em uma das aulas).
O morro e o poeta |
A resposta: tratava se de Paulo Rónai, que veio da Hungria (da capital
Budapeste).
A única resposta (do Wanderley, de Fundamentos I) sugere que
tratava se de
Escritor francês André Beiout viveu no Brasil no sec.XX em meados de 1930, fazendo parte do surrealismo brasileiro, traduziu a menina do morro de Auristéle Montéro no escola francesa Les EnfantsOoooh, que coincidência interessante Claramente, merece o ponto desde que o autor me fornece a sua fonte de informação (pois não consegui achar informações sobre tal pessoa em meus dicionários, enciclopédias, livros e a busca na Internet também deu em nada). |
Sétima pergunta, 12/IV/01 |
A resposta: originalmente o documento que comprovava conhecimentos ou
plenas potências da pessoa diplomada não costumava ser enrolado
mas (por causa do seu tamanho) dobrado; compare com palavra latina
diplois manto, vestido dobrado.
Houve uma resposta, mas o autor não acertou o alvo.
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Oitava pergunta, 19/IV/01 |
Hadj ou Peregrinação |
A resposta: trata-se do imperador Mansa Musa do Mali, um dos maiores
impérios do mundo de século XIV. (Há várias grafias do nome dele, o que é
bastante natural. Basta lembrar-se de Pequim que está virando Beidjing
ou Bombaim que está virando na notação ocidental Mumbaim.) A
Enciclopédia Britannica informa que a viagem dele começou no ano 1324.
Houve 4 respostas, 3 delas (Alex, Ana Lúcia, Wanderley, todos de
Fundamentos I) corretas. A quarta resposta sugeriu que foi a viagem
do imperador romano Justiniano em algum momento entre anos 527 e 565.
Tomando em conta que o Maomé nasceu em 570 e dominou Meca em 630, isso tem
tanto sentido quanto uma sugestão que alguém viajou a Belém para reverenciar
a fé cristã no ano 15 antes do Cristo.
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Nona pergunta, 26/IV/01 |
Recebi 12 respostas. Esta vez vou modificar ligeiramente a rotina
e vou comentar as respostas antes de dar a resposta.
Alguém começa pelos Celtas e Iberos (ainda bem que não começou desde
pinturas rupestres
) e afirma que de repente surgem os
Romanos. Isso não era tão de repente assim e não tem
ligação qualquer com os loiros. Mais feliz é a dica dele que o termo
português para designar os muçulmanos é mouro (talvez haja relação com a
palavra moreno). Há, sem dúvida alguma. Mouros eram os
habitantes de Mauretánia - escuros árabes, ainda mais escuros berberes,
completamente negros fulanis em geral morenos.
Quase todos usam quase mesma frase sobre a Península Ibérica que
esteve sob dominação dos povos germânicos e várias vezes dizem
que a língua por eles falada era o galego o que não é
verdade. Que tal olhar no mapa onde ficava a antiga Galiza (Galícia, pela
grafia castelhana)? Um dos autores fornece o seguinte toque pessoal:
Este povo caracterizava-se por serem fortes, ousados, corajosos e
fisicamente claros (loiros). E eu pensei que depois de 1936 quando
Jesse Owens (nem um pouco loiro, pelo contrário, completamente negro) tirou
quatro medalhas de ouro, estragando irremediavelmente a festa de fortes,
ousados, corajosos e claros nazistas, ninguém mais teria peito de vender uma
apodrecida teoria rasista de associações entre os olhos azuis e cabelo loiro
e todos os valores morais e físicos - mas aparentemente há fontes (no Brasil
do ano 2001) que servem ainda esse indigesto prato.
Por sinal, prefiro falar sobre visigodos era um povo
germânico, sim, mas usando esse termo evito uma sugestão implícita que eles
vieram do lado da Alemanha de hoje. Tudo indica que visigodos habitavam
sempre bem outras bandas.
Há quem sugere que após a invasão do ano 711 foi instituída uma nova
língua o árabe. Quer dizer, um espécie de esperanto, inventado em
poucos anos?
Supostamente os germanos continuaram usando o galego, daí a
origem. Origem do que, de cabelos claros??
Mais um quem bate na mesma tecla mas em outro ritmo: os da Galícia que por
circunstâncias históricas que a separara, do resto da Espanha,
preservou quase intactos o idioma galego, que apresenta estreitos vínculos
com o português, e as tradições de seus habitantes. (Tradição de ter
pele clara???) Vocês devem usar uma idêntica fonte de informações as
mesmíssimas expressões que transmitem as mesmas informações pouco
importantes no caso. Aha, estreito vínculo com o português pode
ser tranquilamente substituido por que é quase idêntico com
português.
Ponderei um pouco sobre a sua insistência na questão linguística (a pergunta
é porque os loiros são chamados de galegos? então uma
resposta tem que elucidar porque os outros falantes do galego (português)
não têm esse apelido). Você tem a faca e o queijo na mão mas o queijo não
chega até a boca o que está acontecendo? Uma conclusão: uma louvável
inocência. Acho isso maravilhoso que as pessoas da sua idade nem querem
sujar a boca com a palavra sexo mas tenho uma notícia
desagradável: não há como explicar os traços físicos de populações falando
sobre idiomas e línguas. Os fatores bem diferentes estão aqui presentes e
terei que fornecer algumas informações sobre os fatos da vida.
Tanto suábios (que refugiaram-se na Galícia) quanto visigodos (que acabaram
com eles no século VI) eram basicamente de pele clara e loiros. Dominando
durante séculos os iberos e romanos eles marcaram por meio de miscigenação a
aparência física do povo da Península. A próxima onda de miscigenação
iniciada em 711 com a invasão dos árabes (e com duração de quase 700 anos)
modificou as características físicas dos povos ainda mais profundamente pelo
fato que é fácil de expor na linguagem de hoje: o gene de cabelo escuro é
dominante, quer dizer: se há duas colorações de cabelos entre os pais, há
tendência de crianças herdar o cabelo escuro. Até certo grau o mesmo vale
para a cor dos olhos - bem, não existe exatamente um único gene responsável
por isso, o processo é bem mais complicado, mas simplificando-o até dizer
chega, dá para comprender da mesma maneira o escurecimento dos olhos e da
pele da prole mouro-ibérica. Mas uma região da Península livrou-se
rápidamente dos invasores. Já em 722 começou a Reconquista e o
rei Alfonso I das Astúrias por volta do ano 750 dominava completamente a
região da Galícia. Isso significa que naquela região os mouros não tiveram
tempo para modificar essencialmente o pool genético da população
local e até hoje quase 1300 anos mais tarde há destacadas
diferenças físicas entre os Portugueses do norte e do sul do Portugal.
Então era possível cortar maior parte das suas divagações
étnico-linguísticas e responder do modo razoavelmente curto:
Resposta: na Península Ibérica havia pessoas claras e loiras descendentes dos povos germânicos. A dominação árabe da Península durante quase 7 séculos em geral apagou esta característica salvo a região da Galícia que estava exposta a miscigenação forçada por período restrito apenas a vida de uma geração. Em consequência em vários lugares galego é sinônimo de loiro ou de pessoa com pele clara.Uma (quase) réplica do acontecimento houve no século XX na Alemanha (e também no Bangladesh, China, países africanos ). Os milhões de soldados do exércico soviético em grande parte das étnias asiáticas violentavam em massa as mulheres da conquistada Alemanha (e dos liberados aliados). Seguramente há dezenas (ou centenas) de milhares de crianças com herança genética ariana só pela metade mas a maciça violência de curta duração não modifica essencialmente o pool genêtico de tão grande sociedade. |
Décima pergunta, 3/V/01 |
Educação nacional |
O nome da instituição era Comissão de Educação Nacional, foi
criada na Polônia no ano 1773.
Nunca ouviram falar? É pena, pois nessa estória há elementos interessantes e
úteis agora, no século XXI.
A Comissão (que era subordenada diretamente ao Rei) marcou de modo decisivo
o futuro da Polônia. Vários historiadores consideram o seu trabalho
essencial na sobrevivência da nação quando no século XIX o país sumiu do
mapa. Bem, o papel principal na Comissão desempenharam uns jovens, naquele
momento com 23 anos. Todos eles mal acabaram de formar-se na Escola da
Nobreza (Szkola Rycerska) criada em 1765.
Conheço algumas outras manifestações da mesma (ou quase mesma) sequência de
acontecimentos em outras épocas e outros países: um país em crise, algumas
autoridades se acordam e cuidam de imediata e intensiva terapia educacional
e moral para os jovens da elite; em pouquíssimos anos a elite completamente
regenerada implementa as novas idéias entre os jovens de todas as classes
sociais e os efeitos da ação deles permanecem na vida social do país
durante centenas de anos.
Justamente por conhecer uns pingos da história considero profundamente
equivocadas para não dizer ridículas as bem-intencionadas
ações do tipo para salvar o Brasil vamos fazer uma boa escola na
favela X e Y. Essas favelas sofrem a mesma desgraça já 80 ou 100 anos
e aguentarão a espera de outros 8 ou 10 anos. A prioridade para as elites
não é cuidar de algumas centenas de favelados mas de modificar urgentemente
a sua própria cara e alma; o desmantelamento da favela virá de imediato como
uma consequência de mentalidade menos besta das elites brasileiras.
(Para evitar os graves desentendimentos: estou falando sobre as
prioridades; se um jovem passa as tardes entupindo-se de cerveja num
barzinho então uma visita de três horas por semana na favela pode constituir
um elemento importante na descoberta dos outros mundos. Você é um daqueles
que precisam do programa de Gugu para descobrir que a favela é habitada por
seres humanos? Então favela não precisa de você mas você precisa da favela.
Vai lá e veja se pode ser útil para alguém que mora lá.)
Por sinal, lembrem-se que vocês fazem parte da elite. Vai depender
da sua decisão individual se você vai ser aquele representante da elite
que leva vantagens, não precisa ficar em filas e ri dos que acreditam
no código de trânsito ou se vai formar um centro de competência, fé
e esperança para os jovens do seu município onde você voltará para
trabalhar.
Havia só uma resposta. Infelizmente errada. Pecou pelo anacronismo pois sugeriu que tratava-se da França da segunda metade do século XIX. Veja bem, se pergunto sobre o primeiro ministério de educação na Europa então seguramente não é algo que teria acontecido após o ano 1789 como você deve se lembrar já a Revolução Francesa laicizou profundamente a sociedade (para entender a força dos sentimentos anticlericais lembre-se que a Igreja possuia 1/3 das terras da França). Mas se a resposta fosse tão óbvia: o ministério da Revolução de 1789 então não perderia seu tempo perguntando sobre isso. |
Décima primeira pergunta, 10/V/01 |
O PortoEssa cidade portuária é e ela fica no estado |
A resposta para a 11ª pergunta é: Paranaguá, no Paraná.
Houve 20 respostas, parece que todas elas vindas da turma de Fundamentos I.
Digo parece, pois duas são anônimas. Uma das anônimas identifico
pela envelope como pertencente a Alexandra. A outra? Que o autor me ajude.
Só uma resposta errada indicava Rio Grande, RS. Mas esta resposta
errada ganhará um ponto pois vale para mim mais do que algumas das respostas
certas. A pessoa indicou na resposta de modo inequívoco que fez uma honesta
busca de informações infelizmente baseou-se em dados do porto de Rio Grande que não
faz um trabalho muito correto, pois ansioso para vender o seu peixe procura
vender imagem do que quer se tornar em vez de informar o que é. (É duvido
que vá se tornar aquela grande coisa para mim é mais um desses
elefantes brancos brasileiros. Se você pretendesse escoar os seus grãos por
lá, antes faria uma viagem até Rio Grande para avaliar as condições de
viagens de seus caminhões e descobrindo o estado de longa estrada Porto
Alegre Rio Grande certamente optaria pelo porto de Itajaí ou
Paranaguá ou Santos.)
Se falo que esta pessoa fez uma honesta busca então tenho algumas suspeitas
com respeito aos outros envelopes? Claro. A quantidade nunca vista antes, o
fato que todas elas concentraram-se em uma das turmas não precisa ser
um bom estatístico para olhar a esse resultado com surpresa. O que fazer,
investigar quem buscou e quem colou? Bobagem, perda de tempo e ainda quase
impossível de executar. Então elimino apenas 5 respostas por motivo técnico
(entrega da resposta devia ser na folha A4) e acho que quem jogou pouco
corretamente comigo um dia vai se arrepender. Isso não significa que imagino
tal quadro: uma pessoa que colou a resposta acorda-se no meio da noite e
sente os tremendos remorsos: como eu podia fazer aquela coisa feia e
em troca de um magrinho ponto percentual? O modelo é um pouquinho mais
complexo. Uma pessoa que se da bem colando incentivada pelo sucesso volta a
colar em uma outra oportunidade, e em outra de novo, aos poucos liga cada
vez menos pelas regras de jogo até que em algum jogo vai descobrir de
modo muito desagradável que as regras têm mesmo a sua importância.
Portanto os ganhadores do ponto são: Alex, Ana Lúcia, Cristiane, Fabiana,
Karen, Lauri, Margot, Mariana C., Patrícia, Piersandra, Velani, Walisson,
Wanderley e um anônimo. (Esclarecida identidade dele: Luiz Carlos.)
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Décima segunda pergunta, 24/V/01 |
Mini-países |
A resposta para a 12ª pergunta é: San Marino.
Houve 12 respostas, todas corretas. Os ganhadores do ponto são: Adriano,
Alex, Ana Lúcia, Bruno Coral, Cristiane, Débora, Fabiana, Lauri, Luiz
Carlos, Patrícia, Piersandra e Wanderley, todos de Fundamentos I.
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Décima terceira pergunta, 31/V/01 |
Lareira |
Os nobres ficavam junto ao povão naquela sala do
castelo que estava aquecida com a fogueira no meio. A invenção da lareira
permitiu que eles se afastem aos seus aposentos sem o risco de congelamento
imediato. Evitando o contato cotidiano com o povo (com toda inerente
exposição de sua vulnerabilidade e seu lado humano e comum) começava-se
criar o mito de sangue azul e outros atributos especiais que
supostamente caracterizavam essa classe social.
Houve 9 respostas. Todas elas associam o surgimento da lareira com as
condições sanitárias de habitações européias da Idade Média. Há aqui algumas
verdades, várias meia-verdades e algumas tremendas confusões. Além de
inconfundíveis indícios de digamos empréstimo de resultados
(se pocilga aparece repetidamente grafada como
Possilga, isso não deve ser por telepatia).
Bastante ilustrativa é a resposta que começa:
O fim da Possilga modificou as relações das sociedades da Europa
feudal e termina assim: com a invenção da lareira, para
aquecer as casas, desapareceu a possilga, acabando com as doenças e com
o frio.
A confusão básica consiste em identificar condições e
relações sociais. Há um fluxo de influências entre os dois
fenômenos mas nem é automático nem rápido. Notem que as condições da vida
modificaram bastante com o abafamento da inflação mas relações sociais
ficaram quase intactas. Em seguida, pocilga em si não é culpada veja
que na Alemanha de hoje várias propriedades rurais têm o sistema de
aquecimento de condução de calor do depósito de esterco (que no processo de
fermentação cria alta temperatura e os canos transmitem para casas
calor mas nem cheiro nem micróbios). Também o tipo de habitação não mudou
tão facilmente só porque apareceram lareiras saiba que em Paris dos
anos 60 do século XX um terço de apartamentos não tinham banheiro com
chuveiro ou banheira mesmo se a distribuição de gas à domicílio e
poliferação de chuveiros aquecidos com gas começou no século XIX. O próximo
fator: a península Ibérica sob domínio dos árabes primava pela higiene (só
no século XIX Espanha voltou aos padrões da limpeza pública e particular do
século XI ou XII) mas ficava submissa às epidemias por igual com o resto da
Europa.
Además: há em trabalhos menções de promiscuidade mas
aparentemente sem saber exatamente de que se trata, já que uma pessoa cita
a falta de promiscuidade. (Na dúvida, dé uma olhada no
dicionário. As vezes isso salva do ridículo.) Então vamos ver:
promiscuidade é a mistura indiscriminada mas básicamente
usa-se o termo para descrever os excessos sexuais. Por exemplo,
levantamentos estatísticos feitos após a primeira leva das mortes entre
homossexuais de San Francisco mostraram que em média as vítimas tiveram
acima de 500 parceiros. Mas como entra promiscuidade na casa medieval sem
lareira? Bem, do mesmo modo como nos sítios de vários recantos deste país de
hoje, aos quais chega já Coca-Cola mas ainda não chega educação primária ou
responsabilidade civil: com uma única cama para toda família são frequentes
casos de gravidez das moças causadas por pai, padrasto ou irmão. Note
ainda que na Idade Média a noção de criança ou
adolescente não tinha o mesmo sentido de hoje os
conhecimentos de pessoa com 10 anos aproximavam-se mais ao que hoje sabe um
morador da rua com esta idade e fica mais claro como a casa com um
cômodo e com uma cama estava relacionada com a promiscuidade. Mas duvido
que a lenta difusão de lareiras modificasse isso tão facilmente.
Se você quer visualizar como a lareira afastou a aristocracia da sociedade,
imagine que a Universidade construiu o Palácio do Governo ops,
desculpe, o Palácio do Professor e você não encontra mais os
professores nos corredores, não vê mais uma meia furada ou calvice
apenas vê a fachada luxuosa do Palácio, assiste as aulas em circuito interno
da TV vendo só o rosto do professor, manda as perguntas pelas cartas que
começam com Vossa Excelência e as audiências (não
consultas) estão marcadas com um monitor engravatado e arrogante. Em poucos
anos professor vira o sinônimo de semideus.
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Décima quarta pergunta, 7/VI/01 |
Psiquiatria norte-americanaQual grupo social costumava sofrer de drapetomania e qual era o tratamento administrado pelos psiquiatras daquele país? |
Cito por completo a resposta da Ana Lúcia:
Grupo social: Escravos. Tratamento:Arrancar o demônio deles o que deixa subentendido que era um tratamento a base de chicotadas. No entanto, uma das referências menciona amputação dos dedos do pé.Meus comentários. A doença foi inventada por um tal de Samuel A. Cartwright por volta de 1850. Um outro nome que ele deu: a letargia da mente. A história tão vergonhosa que a Encyclopaedia Britannica esquece por completo o assunto. A coisa ressurgiu graças ao livro de James A. Findlay, com título Drapetomania: A Doença Chamada Liberdade. Na Rede o assunto é mencionado em sites mantidos pode se supor - por ativistas de luta contra o racismo e por isso deve-se ponderar os seus argumentos pois como uma fonte de informações eles podem não ser completamente objetivos. Por isso destaco a resposta da Ana Lúcia que cuidadosamente escreve: uma das referências . Sem aprofundar-se no assunto é difícil de dizer se foi uma prática disseminada ou apenas um isolado ato de vingança de um escravista. Saber ler significa na sua opinião ter capacidade de transformar os sinais gráficos em ondas sonoras? Bem...eu diria que é um bom começo, mas tratando-se dos universitários poder-se-ia esperar alguma capacidade de processamento de dados pelo cérebro. Será que no caso de outras 6 pessoas (que submeteram as respostas) isso aconteceu mesmo? Escreve alguém: Os psiquiatras daquela época procuravam convencê-los que são iguais a nós, brancos. E, que tinham, assim como as demais raças, todos os direitos que Deus nos garante. Lindo. Até que consigo imaginar isso. Vem a uma fazenda na Georgia uma carroça, desce dela um psiquiatra e fala ao escravo: `Seu Joe? Tudo bem? Vim da Atlanta, dá para gente ter uma conversinha? Eu até trouxe o sofá, 'tá aqui, na carroça '. Isso foi um feito individual. Mas há uma pérola repetida em 5 respostas (auto-replicação, telepatia ou propagação dos conhecimentos?) que soa assim: A cura foi um senhor de escravos, que criou necessidades razoáveis e estruturou o meio de trabalho dos negros. Isso mesmo. Bem parecido ao processo brasileiro: quando a Princessa Isabel libertou os escravos (em vez de re-comprá-los para o Estado) os senhores de escravos criaram as necessidades razoáveis para o fim do Império. Será que esses autores de respostas escreveram dormindo - ou talvez não entendem o que significa o termo escravismo? Não ligo pois ele já se foi? Mais de 100 anos que sumiu? Nem tanto assim, prezados universitários. Se tentassem procurar, achariam nesta cidade muitas pessoas cujo avó ou avô ainda nasceram escravos. As lembranças está embutidas em maneira de diretor da fábrica falar com os operários, em tratamento dispensado pelos motoristas aos pedestres, em brutal e arrogante alô, quem tá falando? e em muitos outros detalhes. Eu sei que 1% da nota não é uma grande coisa, mas também não há necessidade de exagerar com desleixo Admito que sobreestimei fortemente a sua capacidade de associações. Pensei que várias pessoas se lembrariam de uso de psiquiatria na falecida União Soviética, onde os dissidentes foram tratados como loucos, sofrendo de uma forma de esquizofrenia. Daqui pensei talvez alguns partiriam para uma reflexão sobre a ligação entre normalidade e os poderes que pela força estabelecem os critérios de normalidade. Parece que a tarefa não é para hoje ainda. Mas quem sabe, talvez amanhã |
Décima quinta e última do semestre pergunta, 20/VI/01 |
Regras e exceções |
O meu Webster's (unabridged) deve pesar uns 3 kg mas as vezes
mostra que vale quanto pesa. Cito dele:
the exception proves the rule; the exception tests the rule: often used to mean the exception establishes the rule.Portanto, inicialmente havia a expressão: cada exceção prova a regra com sentido original de provar como é usado até hoje: testar, experimentar. Uma exceção desafia a regra e só uma delas sai viva do duelo. Ou a exceção é aparente ou a regra é falsa. Parece que inicialmente perdeu-se a compreensão do sentido da palavra provar e uma vez o sentido desvirtuado, podia-se impunemente mudar a formulação para combinar com a nova (e estúpida) interpretação. |