Alguns conselhos

Não acredite no ensino, acredite na aprendizagem. Um educador é como um técnico esportivo, o papel dele é indicar como você deve correr (chutar, pular, o que quiser), não fazer isso por você. Se você acredita que uma atitude passiva levou alguém neste mundo a dominar algum conhecimento, leia Harry Potter: até os com poderes sobrenaturais têm que se esforçar na escola.
Nada substitui o trabalho sistemático. Não tenha ilusões que em algum momento você vai recuperar os atrasos. Estatisticamente isso é tão freqüente como uma virada no jogo que já tem 2:0 contra o seu time. E uma dose dupla, tripla ou múltipla de esforço posterior vale tanto para liquidar uma lacuna na compreensão das aulas como escovar dentes 21 vezes em seguida depois de esquecer da escova dental por uma semana.
A estrutura de nossos cérebros determina que os conhecimentos obtidos em pequenas doses, aos poucos, ficam por muito tempo – e um carregamento de informações “antes da prova” fica removido após um bom descanso da sua RAM (memória “operacional” ou memória do “sistema límbico”, se prefere os termos técnicos).
Trabalho em equipe aumenta a eficiência. Você está convicto que entende um assunto – uma questão “como é?” do seu colega pode forçar você a repensar tudo. Não procure alguém super-bom para formar uma equipe – a idéia não é de achar alguém para levar você nas costas, mas de ter os desafios que as duas (três, quatro) pessoas vencem, progredindo em pequenos passos. Por sinal, o quinto da equipe só conta piadas e atrapalha. Dois ou três está ótimo, com quatro isso pode funcionar – as vezes.
Trabalho em equipe na sala de aula é uma necessidade absoluta. Não é possível na mesma hora analisar os novos conteúdos e fazer as anotações do modo sensato. Você tem de fazer uma divisão de tarefas com um parceiro – no encontro no outro dia (quando ainda lembram o que se passou na aula) vocês repensam o que foi memorizado e anotado – justamente isso chama-se de estudo.
Antes de perguntar, formule a dúvida em uma oração de português claro e correto por escrito. Provavelmente isso resolverá uma grande parte da questão. Uma desculpa freqüente “não sei por onde começar” em maioria dos casos significa que a pessoa não se deu trabalho de memorizar as noções que precisa usar. É possível discutir com alguém que diz “eu não entendo este martelo” se ela não distingue um martelo de um alicate?
Não estude o sistema como se ganha pontos. Isso exige quase o mesmo tempo e energia que o estudo da matéria e não vale coisa alguma.
Os pontos fornecidos pelo educador não são um pagamento pelo serviço mas as marcas que dão uma informação sobre os progressos na aprendizagem (ou sobre a falta deles). Acreditar que um sistema diferente favorece ou prejudica um estudante é acreditar que a temperatura do corpo depende do tipo de termômetro.
Mesmo gênios precisam fazer exercícios técnicos. Ainda com 90 anos, o célebre violonista Andrés Segovia não menosprezava os exercícios diários de passagens e gamas, cuidando da técnica.
É uma questão muito pessoal, quantos treinos quase mecânicos alguém precisa. O excesso de cálculos bobos mata o interesse, mas sem eles pessoa está ineficiente.
Em cada aula há definições de novos objetos, com exemplos e contra-exemplos (“Foi definido inseto? Vem um exemplo: uma borboleta. Vai um contra-exemplo: uma aranha.”) Você sempre tem exercícios técnicos, cada das noções da aula tem que ser aprofundada por você com outros exemplos e outros contra-exemplos. Cada cálculo tem que ser repetido com dados diferentes. Cada esboço tem que ser modificado, nem que seja de leve, mudando a posição dele no plano. Esta tarefa permanente não é repetida em listas de exercícios anunciados durante o semestre mas é obrigatória até o final do semestre.

Andrzej Solecki

Fpolis, 8/IX/06

Alguns conselhos sobre o estudo

para quem quiser entender