Dra. Neri completou o seu mestrado de matemática com doutorado em 2001 em educação matemática (ou educação em matemática - parece que existem umas diferenças sutis entre as duas expressões) e é natural que isso modificou o seu conceituário. Mas tenho eternas dúvidas até que grau esta linha de atuação gera soluções para os nossos problemas.
Meus questionamentos não devem ser interpretados como uma dúvida sobre o trabalho dela - clara, publica e frequentemente expresso o meu reconhecimento da atuação dela (junto com profa. Carmem) que levou em 1994 a reformulação dos programas e do ambiente do nosso Curso. Espero que quem me lê consegue distinguir entre a linha do trabalho de X e a pessoa X.
Na parte do encontro aberto às manifestações do público expliquei que a abordagem dela parece-me uma moldura sem conteúdo - e isso é perigoso, pois em um bom curso como o nosso o conteúdo que está colocado por matemáticos docentes é de boa qualidade. Mas em outros lugares a mesma moldura pode ser usada para conteúdos de qualidade consideravelmente diferente.
Dra. Neri respondeu que não tenho razão opondo-se a introdução dos conceitos e considerações provenientes dos pesquisadores em educação em matemática, pois cada um tem que usar no seu trabalho uma teoria pedagógica.
Como a constatação certamente é correta e pode ser aceita como mais uma moldura muito geral, decidi não buscar maiores esclarecimentos de imediato. Além do fato que as regras do encontro não previam o direito a tríplicas, tive um motivo mais importante. As falas somem, o ambiente natural para um problema sério é a palavra escrita. Sou adepto da convicção que quem tem uma razão de boa qualidade, pode esperar algum tempo, a razão dele não vai se estragar.
Neste momento posso explicar aos participantes do encontro (e outros interessados) onde enxergo o equívoco da Dra. Neri. Tentarei restringir as explicações ao mínimo, voltando ao tópico e as suas ramificações quando for necessário e quando for possível.
Há instituições onde a mensagem funde-se com a teoria subjacente. Certamente um professor de teologia não pode separar a sua fé filosófica do teor dos seus ensinamentos. De outro mas igualmente decisivo modo existe este fenômeno em cada academia militar - as convicções sobre o valor da força e o treinamento no uso dela são inseparáveis.
No outro extremo de atividades, pouco importa para ouvintes a qual filosofia adere uma cantora ou um pintor, mesmo se para os artistas a postura filosófica deles pode ser essencial para suas atuações.
Creio que os matemáticos encontram-se no meio caminho. Indiscutivelmente as suas convicções pedagógicas e sociais permeiam o modo como atuam profissionalmente. Mas não vejo como e por que pular desta constatação a conclusão que elas devem recheiar os seus recados (ou até tirar conteúdos técnicos para acomodar extenso linguajar da moda) com divagações teóricas pedagógicas.
Já que me oponho às teorias sem cobertura, devo de imediato dar exemplo como vejo isso na prática. Está prática é prática e não uma das possíveis teorias da prática docente, pois descrevo o que se passa no curso Laboratório III em versão que propusemos a ele junto com Dr. Waldir e que aplicamos algumas vezes.
Incentivamos o estudante de
Não tenho objeções quaisquer a atribuir esse programa a esta ou outra escola pedagógica, desde que isso não estrague o processo (por exemplo desvirtuando-o com uma discussão sobre as capacidades cognitivas dos ouvintes).
Resumindo: uma coisa é ter e usar as teorias, outra coisa é vendé-las junto com o meu produto.
Se obrigado a falar mais, fa-lo-ei, mas sem alegria. Tenho muito trabalho preparando as minhas aulas. O preparo das aulas faz parte da minha teoria pedagógica.