Dicionários, dicionários …

A maioria dos dicionários que procuram fornecer a etimologia dos verbetes sugere que seno veio do latim sinus – e há aqui uma estória interessante que conto em outro lugar. Aqui quero voltar à observação que supostamente o latim não confunde a região com o seu bordo. Mas … será que esse fenômeno raramente aparece em português? Note o que acontece quando falo sobre o raio e o seu comprimento – uma comum confusão quando se trata do intervalo e do número que o descreve. Analise o uso costumário dos termos círculo, triângulo, quadrado, polígono …

Vale a pena refletir também se tem sentido falar o ângulo é  pi sobre três (ou sessenta graus, tanto faz). Como esse vício está ligado com a expressão popular mas danosa “a inflação do mês foi x%”?

Qual solução sensata você proporia para evitar essa bagunça? Talvez a solução mais simples seria aceitar que “o barato sai caro” e tentar falar do modo menos sucinto mas mais correto?


As relações entre os comprimentos dos lados de um triângulo retângulo impressionam tanto que costuma-se classificar todos os triângulos conferindo inicialmente se o maior dos ângulos é reto ou maior que reto. O Aurélio, tido como um dicionário muito bom, define (triângulos) acutângulo e obtusângulo (e garanto que você pode ter uma vida matemática longa e frutífera sem jamais ter ouvido esses palavrões), define o ângulo obtuso como não agudo, mas não define o ângulo agudo. O meu velhinho Lello Universal do final de anos 30 define “ângulo agudo” como “que tem menos de 90 graus” e “obtuso” como “maior que um ângulo recto”; uma clara inconseqüência, deve ser uma outra equipe que trabalhou na letra “o”. Além disso, não faria mal embutir a exigência “… e menor que dois ângulos rectos” – se quer-se que o dito ângulo serve para algum triângulo.

O Caldas Aulete de 1970 fala o mesmo sobre o primeiro ângulo e sobre o outro “diz-se do ângulo mais aberto que um ângulo reto”, portanto a mesma escola do Lello. Mas pelo menos – diferentemente do Aurélio – definem o dito ângulo e as definições são aceitáveis.


Em uma das provas alguém escreveu “losangulo”. A pessoa não confiava provavelmente na minha versão “losango” da folha de exercícios. Não deve ter sido um erro de nervosismo, pois a “correção” estava repetida 3 vezes. O divertido é que a associação com “ângulo” é falsa. Dicionários afirmam que a palavra veio do francês “losange”. O dicionário larousse étymologique sugere duas possíveis origens: ou de gaulês “lausa” (então “lousa”, de volta em português) – ou de árabe “lawzinag” (e esta vez seria “amêndoa”).