“Perguntas de 3%” do semestre 01.1

As regras eram seguintes:

3 pontos de graça?

Não, 3 pontos por um trabalho

Vários cientístas encaram a matemática como uma outra linguagem. Uma nova linguagem, para a maioria de vocês. Mas… como as coisas andam com a velha linguagem, com o português?
Somos um curso bem-sucedido. As notas do “provão” permitem acreditar nisso. E o sucesso – entre as outras causas – tem a base em aposta na qualidade de português de nossos estudantes.
Há várias maneiras de me convencer de alguma coisa. Uma ordem? Uma arma? Sim, são as maneiras eficientes, mas a mais eficiente de todas – glória aos construtores da civilização mediterrânea, mais comerciantes do que conquistadores – é o convencimento verbal. Obrigue-me de aceitar o seu ponto de vista pela qualidade do seu discurso. Eis é a base do ensino (é também da democracia).

Vários colegas do nosso corpo dicente acreditam que não há uma boa matemática sem um domínio do vernáculo. Eu também acredito nisso. Reconheço que é irônico se um polonês (com um forte sotaque) cuida da qualidade de português dos seus estudantes mas talvez os dois argumentos facilitem a sua aceitação desse fato. O primeiro é que Joseph Conrad não era bem inglês, Paulo Rónai não era exatamente mineiro, nem Yves Montand nasceu como francês. O segundo ponto é menos intelectual: no meu esconderijo tenho os pontos e dou os pontos para quem prova que domina a sua língua.

Trocando em miúdos. De duas em duas semanas vou propor um tema para uma reflexão e quem quiser pode me fornecer uma resposta escrita. Pode ser um conto, um depoimento, uma anedota, um haiku… Não, acho que exagerei. O haiku não (teria dificuldade de avaliar a qualidade dele).

As respostas que eu considerar interessantes vou colocar neste diretório – e além de poder se gabar entre os amigos: " o meu texto está na Internet" o autor ganhará 3 (do possível total de 100) pontos da nota final dele. As regras do jogo são sequintes.

  • O texto pode ser fornecido em maneira clássica ou eletrônica. Se o texto premiado estiver no papel, vou digitá-lo. O autor tem o endereço eletrônico? Cite-o, mesmo se o texto for entregue por escrito. Quanto ao e-texto, o único aceitável formato é ASCII. (Arquivos com esquisitas extensões tipo `doc' ou `rtf' não chegarão a ser abertos.)
  • O limite do tamanho é uma página (2.000 caracteres). Conta o texto visível. Quer dizer: se em versão eletrônica você fizer uma referência

    A Rainha <A HREF="http://www.windsor.uk/3o-andar/~betty>Elisabeth</A> disse
    você usou 24 carateres.
  • Os trabalhos obtidos de outros textos pelo uso da técnica cut and paste são ignorados.
  • Lamento, mas é uma censura: a linguagem vulgar não entra. Afinal, é a minha home page, se na vida cotidiana não aceito a vulgaridade, porque iria aceitá-la aqui?
  • O trabalho é individual. No caso de uma linguagem muito rebuscada reservo a mim o direito de avaliar se isso vem mesmo do seu interior (cérebro, inspiração) ou do seu exterior (enciclopédia, mamãe, um artigo da Ciência Hoje).
  • Mesmo tornando-se um colaborador sistemático, você ganhará só 12 pontos. Isto é, se o seu quinto texto for aceito, isso acrescenta as honras mas não acrescenta os pontos.
  • Valorizo a simplicidade. Sei (da própria experiência) que é uma meta quase inalcançável, mas tente… Ah, por isso mesmo há uma restrição do tamanho do artigo.
  • Entrega em 11 dias da divulgação do desafio, na escrivaninha da Silvia/Iara ou no andsol@mtm.ufsc.br

A lista dos tópicos

e dos autores das respostas

  1. As Máximas (Latim e Português)
  2. Faço uma Universidade 0km
  3. Tabela de Tudo e Xerifes do Procom
  4. Ciências Ocultas
  5. Colegas e Diretores
  6. O artigo de Gilberto Dimenstein
  7. 2º Grau e Universidade São Diferentes?

O primeiro tema (para 12/III/01)
Lembre-se da máxima romana

qui docet discit

ou da frase do Francisco de Assis

é dando que se recebe.

Um estudante de hoje pode obter delas
alguma sugestão prática?
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Trabalho aceito (Dörthe)
Sou professora de língua estrangeira e, portanto, tenho experiência tanto no estudo quanto no ensino. Apesar de, na faculdade de Letras, ter sido uma aluna relativamente aplicada, foi só quando começei a dar aula que eu realmente entrei em sintonia com a minha área. Aprendo muito mais agora e atribuo isso ao fato de que, na aula, preciso constantemente testar meus conhecimentos e colocá-los em linguagem simples. Não basta repetir informações decoradas; é preciso incorporar a matéria, posicionar-se frente a ela para ser um professor autêntico.

Gostaria de ter tido esta postura já quando estudava Letras. Naquela época, a minha mente se dispersava com frequência tentando assimilar a maior quantidade possível de informações. Me perdia em detalhes, sem conseguir amarrá-los numa estrutura consistente. Hoje eu acho que faltou dialogar melhor com meus colegas. Participava de grupos de estudo, mas não gostava muito. Achava que, frequentemente, dava mais do que recebia. E realmente não eram raras as vezes que era eu que mais bem tinha preparado os textos. Em vez de trocar minhas idéias com os colegas, eu “apenas” as expunha para eles o que me deixava frustrada. Hoje tenho certeza de que não valorizava o suficiente os colegas que me davam ouvido. Ter alguém para escutar minhas idéias é completamente diferente de falar para uma parede.

Que tipo de sugestão prática pode-se tirar do meu breve relato? Eu diria que é a seguinte: Participem, sim, de grupos de estudo, mas vale a pena investir na procura de parceiros afins. Sejam disciplinados e preparem a matéria antes dos encontros porque o maior aprendizado ocorre na troca de idéias e dúvidas e não na leitura coletiva de textos teóricos.

Eu acredito nas palavras de Francisco de Assis. Daria para acrescentar que muitas vezes recebemos diferente do que imaginamos. E que talvez demore um pouco até perceber o quanto recebemos.

Dörthe Uphoff   

Trabalho aceito (Priscila)

Nenhum  homem  é  uma  ilha

Não se pode viver isolado. É necessário trabalhar em grupos, estar aberto às críticas e às diversas opiniões. Todos dependem-se.

A vida é uma constante troca. Vivemos em busca de algo. Isso não nos deve separar e sim nos unir. Viver é um desafio. Coragem não nos deve faltar. O medo é uma consequência. E a união: harmonia, motivação.

Dar sem esperar algo em troca é gratificante. Sempre recebemos… Mais tarde ou mais cedo, receberemos. Ao contrário se vivermos sem ação, somente esperando… seremos simples espectadores.

A mais importante batalha é a que travamos dentro de nós mesmos. Na busca de nossos ideais, sonhos, objetivos… O interessante é que nunca ficamos totalmente sozinhos, sempre precisamos de quem está ao nosso lado. Da mesma forma que os outros precisam de nós.

Priscila Cardoso Calegari   

Fechando o primeiro capítulo (AS)
É bom ter recebido 14 textos (a grande maioria dos estudantes de Fundamentos I). É menos bom que estou disposto aceitar neste espaço só dois deles. E os demais? Bem, talvez eu seja chato e rejeito algo que poderia passar pelo crivo de alguns/algumas colegas. Ou talvez a culpa seja dos textos.

Creio que tanto os autores quanto o público que os não lerá merece essas explicações. Entrando em algo novo precisamos ver tanto exemplos quanto contra-exemplos para aprender a difícil arte de discernimento.

Antes de mais nada: houve quem traduziu a frase de latim: “quem ensina aprende” mas tenho forte impressão que houve quem não traduziu, não entendeu de que se trata e continuou com o seu samba, mesmo que o ritmo estava bem diferente. Além disso, o pecado comum nessa cozinha foi muito molho de declarações e abstrações com pouca carne de concretos. Sim, são poucos entre vocês que podem começar dizendo: sou professora disso e tenho experiência daquilo – mas acredito que cada um tem algum tipo de experiências que analisadas honesta e profundamente levam às conclusões muito avançadas. Exemplos? São tão óbvios e comuns que posso deixar este ponto como um fácil exercício técnico de recuperação de dados do Teu winchester.

Começa alguém: “Quem hoje ainda não percebeu que o mundo está avançando cada vez mais para o futuro onde apenas os mais fortes, os mais preparados sobreviverão?” Bem, eu por exemplo não percebi  isso – e quiça aceitasse uma parte disso após ter ouvido o que esses termos venham a significar – mas basicamente tenho desconfiança (baseada no meu pontuado conhecimento da história) de darwinismo social. É frequente que um mal-intencionado anuncia que está muito escuro e em seguida apaga o resto da luz.

Uma outra exposição capta uma nota bem parecida: “No atual mundo… o espírito neoliberal e privatista reina… Tudo gira em torno do lucro e do poder.” Muita acusação, pouca documentação. Nenhuma documentação, por sinal.
(Se você notar que o espírito neoliberal e privatista começa reinar na nossa sala de aula, me dê um toque, por favor. Vou dar um jeito nele.)

“A única coisa que temos certeza na vida é a morte. E temos plena convicção de que somos apenas matéria bruta, que se degrada tornando-se comida para seres…” Oo, então não sou o único ateu na sala? Prazer conhecer. Mas acho que não vamos fazer uma frente única pois eu reconheço que uma frase de valor duvidoso não se torna mais aceitável só por ficar no presente do indicativo. Uma considerével maioria de pessoas do mundo de hoje abraça vários tipos de convicções religiosas, rejeitando frontalmente as suas observações. A truculência da sua formulações torna-as inaceitáveis também para materialistas do meu tipo – pois não é bem assim a estória da matéria bruta… Por exemplo: os arqueólogos sabem que no mínimo desde 70 mil anos cuidamos do bem-estar dos nossos falecidos, portanto o respeito que temos para os que nos abandonaram é um fato social, com existência estendida por mais de 2800 gerações de vidas da nossa espécie. Uma convicção que não parece ter virado uma comida.

Diz um outro: “Há alguns séculos, surgia uma nova forma de expressão, a linguagem da matemática, nela vários estudiosos como Roger Bacon, Euclides, entre outros, lutaram para que suas teorias fossem aceitas [...]”. Peraí, como é a estória de Roger Bacon e Euclides? Lutaram juntos, lado ao lado – ou um acima do outro em forma de um anjo? E desconheço as contribuições de Roger Bacon à matemática ou lutas de Euclides na aceitação de sua compilação da matemática contemporrânea. (E lembre que eles viveram afastados por uns 1500 anos…) Sejam quais forem as suas fontes de informação, que tal trocá-las por uma decente enciclopédia?

Relatando uma conversa de ônibus sobre “a troca de favores entre políticos” uma outra pessoa faz a reflexão “Será que vamos estudar pelo menos por mais quatro anos para depois participar do grande circo de corrupção?” Um bordão da moda: “político = corrupto”. Espere um momentinho. Nas últimas eleições não tive qualquer dificuldade com a escolha de meus candidatos para prefeito e vereador – confio em honestidade e competência de ambos. (Um deles ganhou, um perdeu.) E você – será que você partiu do pressuposto “todos corruptos” e não fez um esforço para selecionar o melhor possível?
Quanto aos políticos corruptos, há sempre uma esperança de um final feliz: vão se destruir mutualmente, usando os segredos das suas pocilgas. Mas gostaria de saber onde achar a fonte de esperança para outros fenômenos sociais: que fazer com jovens que acreditando em seus reflexos divinos (sustendados frequentemente por caipirinha ou cerveja) fazem na Beira Mar manobras que podem encurtar a vida de toda minha família? Como explicar para um desconhecido falando alto e vulgarmente na fila do banco sobre as suas conquistas que aquele veneno expelido por ele não ficará no ar por muito tempo mas permanecerá para sempre na alma dele? Como convencer um sujeito que cola na prova que os ladrões de resultados nunca evoluem para educadores empolgados mas tornam-se chorões, mal-pagos e incompetentes?
Que tal de usar a sua vontade de modificar os políticos para treinar as modificações mais próximo a você mesmo?

Várias observações (desses 12 trabalhos não-aceitos) têm seu valor ou charme mas ficam invalidadas por falta de argumento ou por erros de estilo ou por falta de ligação com o tópico deste desafio.

Ah, obviamente a frase de São Francisco de Assis admite várias leituras. A dos políticos do “Centrão” não era muito profunda. Algumas apontadas em seus trabalhos iam um pouco mais longe. mas eu estava curioso se alguém mencionasse um dos dois pontos bastante importantes:

  • Boas ações costumam deixar um profundo bem-estar em pessoas que as fazem. Maioria de pessoas gosta de pensar de si mesmo que são nobres, magnânimas e importantes.
  • A história destaca o gesto do São Francisco de Assis quando tirou dos seus ombros o casaco de pele e o deu para um pobre. A história não diz se o pobre ficou aquecido por vários anos ou se trocou o casaco por cachaça numa espelunca por perto. A mensagem está com o doador, não com recipiente – e só o primeiro ganha os holofotes e os aplausos.

O segundo tema (para 26/III/01)
Sou rico. Quero ser mais rico ainda. Vou abrir uma universidade particular, tão boa ou até melhor que UFSC. Quais serão as minhas despesas?
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Não houve trabalhos aceitos
Comentários sobre os trabalhos recebidos (AS)
Recebi dois trabalhos. O primeiro com título “Um grande negócio: criar universidades” assinado por uma pessoa deve ter de fato vários autores, ja que no meio consta uma frase “Não nos parece possível conciliar a execução de um projeto de curso de qualidade…”. Uma outra hipótese é que se trata de um recorte de discurso de alguma agremiação política – talvez seja isso mesmo, pois não há dados concretos mas há tom altamente emotivo, exemplificado pela frase destacada em negrito: “É uma vergonha para a educação brasileira, onde aparece de forma clara o poder dos grandes empresários que ganham rios de dinheiro criando universidades particulares [...] ” A frase destacada termina muito mais longe, após outras 6 afirmações que junto com 4 supracitadas (1 – o assunto é vergonhoso, 2 – há comprovação do poder dos grandes empresários, 3 – eles criam universidades, 4 – eles ganham com isso rios de dinheiro) traz 10 afirmações em uma proposição sem sequer tentativa de comprovar qualquer delas.

O problema com a formação de um longo trem dos vagões da qualidade não testada é que se um deles descarrilhar, a viagem vai terminar. Se você prefere na linguagem matemática: se um dos componentes da conjunção é falso, a conjunção é falsa.

O segundo trabalho tem título “Meu maior sonho” e versa sobre uma universidade na cidade natal da autora onde tudo será enorme e de qualidade excelente – nem a reciclagem do lixo foi esquecida – mas em todo texto não tem um único número. Interessante, mas o que isso tem a haver com a pergunta que eu formulei? A pergunta era puramente aritmética: “quanto custa?”

Em vez de avaliar uma planilha de custos de criação de uma nova universidade estou obrigado de ler sobre as convicções filosóficas dos autores. “Ganhar rios de dinheiro” é um pecado? Porque? E quantas casas decimais tem um rio? A outra pessoa contra-ataca: “um professor tem que ganhar muito bem”. Porque? Quanto? Cada professor? Para não comprar uma briga muito feia, nos exemplos evito dar nome aos bois da UFSC pois é fácil de ficar atropelado por uma boiada. Falarei sobre João Pessoa. Ou Fortaleza. Ou outros recantos encostados na fronteira boliviana (leia: 30% extra). Com ganhos na justiça (custa-me muito de não usar aspas) relativos ao plano Collor, plano Bresser e outras bobagens, um mestre colocava no bolso mais de 2500 dolares (líquido) por mês, catorze e meio meses por ano, com estabilidade, sem pesquisa, sem precisar provar o que ele vale – salário bem acima do médio norte-americano dos doutores nas universidades. Ou talvez mencionarei Rio Grande, RS (30% por ser limítrofe + plano Bresser) onde há pouquíssimos doutores mas há uma avalancha de professores titulares. Alguém está disposto de me explicar porque a sociedade deve aguentar isso?
Houve um período (final de anos 70) que o dinheiro jorrava encima de todos os professores universitários (é daquele tempo que muitos têm casa na praia ou lembrança de carros do ano, trocados de 12 em 12 meses) sem que a educação brasileira levasse qualquer vantagem. Para muitos (vivos e ativos mas sem tempo para pesquisa ou renovação dos conhecimentos) essa bonanza nunca terminou.

Conclusão: involuntariamente os autores forneceram uma prova que quando falta argumentos, os pontos de partida afastados ao extremo: seja uma carga de emoções negativas, seja de positivas, levam ao mesmo resultado: uma verborragia.

Que tal voltar um dia ao mundo real? Com a mesma metragem, quanto encarece a construção com vários andares? (Dica: confere a porcentagem do total que consome um elevador.) Melhor ir fora da cidade e fazer prédios baixos? Qual será o custo de equipamentos? Qual coeficiente “número de estudantes por número de professores” você assume? Quantos periódicos de cada área de conhecimento haverá na biblioteca? Quantos volumes tem que ter uma biblioteca decente? Quantos funcionários você empregará? Quer ter especialistas da classe mundial – mas qual é o custo anual de contratação de tal especialista? Não se esqueça: “despesa do empresário com folha de pagamentos” não é bem a mesma coisa que os salários que as pessoas recebem, há um tal de “governo” no meio caminho.

O roteiro é pouco empolgante? Pois é, de gustibus non disputandum est. Mas se você não pretende usar na vida o que aprendeu sobre quatro operações aritméticas então para que estudou isso?

O terceiro tema (para 9/IV/01)
Em períodos de crises econômicas com inflação alta invariavelmente surgem os proponentes de soluções globais e firmes: tabelar tudo; produtos saem de fábricas com preços estampados; governo fiscaliza tudo e protege de descumprimento da lei.

Os autores de propostas provocam as reações variadas. Há quem quer torná-los os xerifes do Procom, há quem faria entre eles uma triagem, mandando uma metade para escola primária e outra para hospício. E qual é a sua opinião?

Para evitar uma enxurrada de trabalhos da sociologia e filosofia, explico que a pergunta é colocada diante dos futuros matemáticos e tenho interesse apenas em um parecer técnico. Quero ter avaliações numéricas: qual seria comprimento da lista de tudo? Quantos fiscais a operação exigiria? Qual seria o salário deles? Qual proteção contra a corrupção deles? E lembre-se que os organismos do governo nunca vêm munidos de mecanismo de auto-desativação, os fiscais estarão aqui até o Juízo Final.

(Quero saber também como a fábrica vai por preço na vaca, em um roteiro da novela da Globo, no tomate caqui com bicho e no caqui-café sem bicho.)

Aceito trabalhos de equipe de duas pessos (que tomam posições opostas, não necessáriamente coincidentes com as convicções pessoais, apenas simplificando o processo de enumeração dos argumentos de ambos os lados). Considero aceitáveis quaisquer opiniões, desde que seguidas por argumentos que não fazem um matemático cair na crise de choro convulsivo.

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Não houve trabalhos aceitos
Comentários sobre os trabalhos recebidos (AS)
Recebi 4 respostas (uma anônima. Estranho). O nível formal está melhorando – as frases são completas, a forma da exposição interessante – mas na parte do conteúdo o progresso é desse tipo que talvez possa ser chamado de retrocesso.

Apareceram os números mas na base de chutometria. Alguém propôs convocação de 30.000 fiscais. Porque 30.000 e não 3.000 ou 3.000.000? (Um fiscal para cada 5.000 cidadões? Mesmo se trabalhassem sozinhos, vários municípios ficariam fora de fiscalização.) Onde está o raciocínio? Como estima-se a quantidade de coisas que devem ser fiscalizadas e lugares submetidos a fiscalização? Quais serão consequências entre os empreendedores e inventores se houver congelamento global?

O mesmo sobre o salário deles. As propostas sugerem R$400, R$1.500, R$2.500… O que une as propostas é a falta de qualquer justificativa.

Não, por enquanto não há nestas turmas pessoas que queriam aplicar uma visão numérica aos problemas sociais. A consequência natural é que sumindo qualquer análise aparece “devologia”. O governo deve. O povo deve. A fábrica deve.

Acho que não devo colocar isso na Rede.

O quarto tema (para 23/IV/01)
Na livraria do Centro de Convivência vejo uma pratileira com obras de Ciências Ocultas. Hmmm. Não seriam os termos contraditórios? Imaginava que um atributo essencial da ciência é ser aberta. Como você encara isso? Se tudo bem para você então me explique porque algumas ciências seriam democraticamente acessíveis a cada um -- e outras nem tanto assim. Se você acha que aquelas “ocultas” são coisas boas mas não são ciências então porque tanta insistência delas (criticando ciências e cientistas a todo vapor) de tentar passar por membros da família de ciências? E se você acha que isso é um monte de lixo então como explicar a sua aceitação na melhor livraria da melhor Universidade deste Estado? (A universidade, por sinal, mantida pela União, sem declaradas intenções comerciais.)
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Trabalho aceito (Fabiana)

Ciências Ocultas

O dicionário Globo, escrito por Francisco Fernandes e Celso Louft, define como ocultismo as ciências das coisas ocultas, como a magia, o espiritismo, a astrologia, o sobrenatural. As causas que não podem ser conhecidas em si mesmas e somente o são por seus efeitos.
A ciência em si é o conhecimento de qualquer assunto por meio do estudo, da meditação. Então como explicar o termo Ciências Ocultas? Por ser ciências, não deveria ser popular, acessível a todos? E sua aceitação nas pratileiras na Livraria do Centro de Convivência?
Estive conferindo as obras que lá se encontravam. Livros que falam no significado dos sonhos relacionados a objetos do cotidiano; livros de tarô, de sexualismo. Acredito que o termo “oculto” para essas ciências são porque os resultados da mesma só se dão se você se convencer e acreditar fielmente que ela existe. São coisas sobrenaturais, que não se pode ver, por isso até consideradas vulgares.
Pessoalmente, não me interesso por essas ciências por achar que não existe coisas do além, pré-definidas e que ninguém pode adivinhar o futuro de ninguém. Não diria que essas obras são lixo, mas também não são boas. Seriam acessíveis somente aos indivíduos supersticiosos, que acreditam em coisas “fantásticas”.
Sua aceitação na melhor livraria do Estado? Resposta simples, há quem gosta de passar seu tempo lendo coisas diferentes e há quem realmente acredita nessas ciências. Por ser uma livraria, deve conter todos os tipos de livros, para quem estiver interessado em adquirir qualquer tipo de conhecimento.
Fabiana Travessini   

Trabalho aceito (Luiz Carlos)

Aceitação ou discernimento

Ciências ocultas são termos contraditórios, pois a ciência tem por objetivo “ser aberta”, explicar os fatos através de fundamentos e experiências, já as “ocultas” não possuem uma explicação sistemática ou racional para os acontecimentos.

Temos como exemplos de ciências “ocultas” a Alquimia e a Astrologia, que pregam respectivamente as seguintes idéias: a primeira buscava a pedra filosofal, e mesmo sem fundamentos acabou dando origem a Ciência Química, descobrindo o fósforo, a pólvora, dentre outros, a última prevê o futuro através dos astros, que é algo sem sentido e improvável; vejamos, dizer que Mercúrio está em conjuntura com Júpiter, então não será um bom dia para apostar no Amor, idéia esta sem constatação verídica e comprovação científica.

Creio estas supostas ciências algo baseado na crença, um psiquiatra disse: “se alguém assume para seu subconciente que algo acontecerá, este ficará intencionando e buscando possibilidades para que tal fato aconteça, então haverá grande chance de acontecer”.

Vendo por esta óptica chego a conclusão de serem as “ocultas” uma farsa; pessoas que procuram através do pouco conhecimento de alguns, retirar proveito e benefício.

Outro fato, é o de poucas pessoas terem acesso ao exercício desta suposta ciência, pergunta esta feita a uma cartomante, a quel ela respondeu: “deve-se nascer com este dom, isso é coisa que somente uma minoria pode fazer, como: ler mãos, jogar cartas, receber espíritos e etc...” (logo pensei, precisa-se nascer com um dom especial p/enganar os homens); no meu ver isto é o que se chama “charlatanismo”, por isso nem todos tem acesso.

As “ocultas” criticam as ciências, com base no “ataque x defesa” é a tendência, se somos atacados, procuramos defesa, e como ciências as contradizem e desmentem, elas procuram defesa na crítica.

Hoje em dia numa sociedade bombardeada por novos acontecimentos e períodos ruins, há grandes preocupações, e as ciências nem sempre trazem boas perspectivas e soluções, o que traz grande aceitação às “ocultas”, que pregam alívio e um mundo melhor, mas isso baseado numa óptica futurística – na esperança.

Penso que uma livraria tem que estar munida de variados títulos, a modo de suprir a necessidade de sociedade, e se a mesma procura por “ocultos”, nada mais justo, a melhor livraria da melhor Universidade do Estado, ter em suas prateleiras obras sobre este assunto, respeitando assim todos os gostos.

Luiz Carlos Leal Junior   

Comentários (AS)
Houve também um trabalho com título “A democracia na UFSC” que tratou de muitos assuntos, desde os preços de livros até o reajuste dos servidores – mas o único tópico que consegui entender nele é que a pessoa (o trabalho anônimo de novo!) também defende a presença das ditas obras na livraria da FEESC, em nome da democracia, por sinal.

A aceitação de dois trabalhos acima não indica de modo algum que os considero bons ou bem escritos. Pelo contrário, temo que os autores não tiveram tempo para passar para o quinto, oitavo e décimo rascunho, destilar e aprofundar as idéias e tentar substituir as declarações pelos argumentos. Mas coloco os textos aqui, pensando em possível seguimento. Talvez isso provocará alguém para propor uma outra visão – indo na outra direção ou na mesma direção mas por outro caminho? Pois acho muito acertada a máxima do Editor dos problemas do Crux Mathematicorum: No problem is ever permanently closed. The editor is always pleased to consider for publication new solutions or new insights on past problems. (Nenhum problema é fechado permanentemente. O editor sempre terá prazer de apreciar para publicação as novas soluções ou novas idéias sobre os problemas do passado.) Portanto: até o final do semestre pode submeter o seu trabalho que constituiria uma continuação da conversa sobre o tema desse desafio; se for aceito, o trabalho estará incorporado aqui mesmo.
Os comentários mais específicos.

  • Alquimia e astrologia? É facil chutar o cachorro morto, tente dispensar o mesmo tratamento aos seus irmãozinhos de hoje, por exemplo homeopatia ou a fé em “comida natural”.
  • O que você faria se um astrólogo lhe passasse umas elaboradas estatísticas provando a veracidade dos horoscópios? “Matar o cachorro a grito” funciona com os picaretas, mas se um astrólogo tem bons conhecimentos das técnicas científicas e está disposto de conferir os seus dados com os cientistas? Em 15 minutos de buscas na minha biblioteca localizei a edição de Encounter de dezembro 1979, com o artigo de Hans Jürgen Eysenck, o famoso psicólogo británico, que justamente nesta maneira tornou-se um defensor da astrologia. A mesma coisa poderá acontecer com você se na sua base filosófica faltar mais sólidos argumentos de defesa contra o escuro e misterioso.
  • A minha formulação do desafio não fala sobre “a melhor livraria do Estado”. Pense um momento: o mais rico da maior família do Estado provavelmente não será mais rico até no seu município.
  • Não estou estranhando a presença daqueles livros na FEESC – dois simples argumentos tornam-na natural: 1. FEESC é uma fundação e como tal procura dinheiro, a livraria é a sua agência comercial. 2. Na Universidade que em seus 40 anos teve só um único período de 4 anos com um reitor que não era de maçonaria, é meio difícil imaginar o clima moral e convicções filosóficas para tentar afastar esse tipo da literatura dos universitários.
  • Compreendo também o nível da tolerância dos três autores: estamos na terra do “deixa pra lá”. E ainda – como dizem desde milhares de anos – “o hábito é a segunda natureza”. Nunca vi coisa diferente? Então isso deve ser natural e bom. Afinal, o povo gosta, porque não vender?
  • Só para levemente sugerir que há uns problemas na argumentação sobre o negócio de democracia, sobre a livraria que “deve conter todos os tipos de livros”, sobre a questão de “suprir a necessidade de sociedade”, proponho refletir até onde você estenderia essa abertura e liberdade: que tal os livros publicados em Porto Alegre que provam que o holocausto nunca existiu, pelo contrário, os nobres nazistas sofreram várias difamações feitas por chatos judeus? E a pornografia, com uma considerável demanda social (especialmente entre os homens)? Ou talvez um manual de introdução em sadismo? E porque não uma instrução como se tornar um herdeiro, apagando papai e mamãe?
  • Como você acha, desde quando há uma associação “ciência = progresso” ou “ciência = vida melhor”? Tente colar umas datas a esses chavões.
  • Seguramente não subscrevo as convicções expressas acima sobre ciência. Não acho que trata-se de quaisquer conhecimentos (uma lista telefónica não pertence à ciência) ou de explicar fatos através de fundamentos e experiências (usando fundamentos sem fundamentos e milhares de vítimas para perfurar a vontade, os chineses desenvolveram a teoria e a prática de acupuntura sem criar uma teoria que pode ser chamada de “científica”. Por sinal, umas associações com um evento moderno que não custou as vidas de prisioneiros mas custou uns bilhões de dolares – O Genoma Humano – não estarão despropositadas). Nem penso escrever aqui um memorial o que seria a ciência de minha perspectiva mas dou uma pequena dica: em várias disputas facilitava a minha vida a remoção para filosofia das perguntas que começam com “porque” ou “para que” e reter para o domínio da ciência as perguntas que questionam: “como”.

O quinto tema (para 7/V/01)
Proponho uma brincadeira de RPG – mas você não vai ter os poderes de um mágico ou um super-pokémon, pelo contrário, os seus poderes estarão muito limitados. Você vai ser um(a) diretor(a).

Estamos em ano dois mil e pouco, você trabalha na escola do Estado e acaba de ser eleito(a) o(a) diretor(a). E já no primeiro mês nesta função aparece um pepino. Chega à você uma prova inequívoca e clara que a professora Lídia é incompetente até dizer chega, que os alunos e os pais nem querem mais ouvir dela – e isso não é uma surpresa para você, sempre você suspeitava que algo com ela está errado. Só que antes ela era a sua colega – e agora ela virou o problema com qual você tem que fazer algo. Talvez daria para afastá-la – ela não é concursada – mas você sabe que ela tem vários amigos – e o marido dela é um competente advogado, a luta pode ser muito dura. Além disso, eles sempre estavam em aniversários na sua casa e vocês são considerados amigos(as).

O que você vai fazer agora?

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Trabalho aceito (Alex)

Cumprindo o dever

Nao poderia começar a minha tese, sem dizer que a justiça deve estar a cima de tudo. Quando elege-se um responsável para qualquer que seja a área de atuaçao, os eleitores esperam que este defenda seus interesses, nao importando os meios utilizados, ao passo que o eleito tem por obrigaçao defende-los, sem olhar para as conseqüencias pessoais que este poderá sofrer.

Profissionalmente é muito complicado como superior, tomar atitudes que possam prejudicar pessoas que participam da nossa vida particular. Mas, num caso como este nem atitudes paliativas, como nomeá-la para um cargo de secretária ou assessora direta daria resultados, já que a mesma encontra-se desprestigiada junto aos interessados diretos (pais e alunos) e isto dificultaria muito a transferencia para quaisquer que fosse o cargo.

Antes de atitudes um tanto quanto bruscas, eu como diretor conversaria com a professora explicando toda a situaçao e dando um prazo para que ela se restabelecesse como tal e reconquistasse a confiança dos pais e alunos. Nao havendo mudanças quanto a sua competencia e diante dos fatos anteriormente expostos nao haveria outra alternativa que nao a de afastá-la do cargo que nao lhe é de devido mérito . Responsabilizando-me por qualquer fato adverso provocado pela minha atitude.

Alex Deni Alves   

Trabalho aceito (Cristiane)

O Caso de Lídia

Assumindo o cargo de Diretor de Escola, e deparando-me de imediato com tal problema, até porque já seria algo previsto, eu certamente chamaria a Professora Lídia para uma conversa, onde colocaria que a mesma não estava satisfazendo os anseios da Escola, e que neste momento estaria oferecendo a ela mais uma oportunidade, onde pudesse num curto espaço de tempo apresentar resultados positivos.

Se tal fato não acontecesse, independente de amigos influentes, marido advogado e até de nossa amizade, nada me impediria de que convocasse o Conselho Deliberativo*, que exerce soberania a nível de Escola para que o problema fosse definitivamente resolvido. Porque no cargo de diretor, deve-se primar o benefício da educação – acima de qualquer obstáculo – e para o bem da instituição Lídia deve ser punida, nem que isso acarrete em perdas pessoais, (pelo fato de ganhar novos inimigos, o que seria perigoso para um diretor novo).

Tudo o que acontece na escola tem caráter educativo. Educativo porque qualquer acontecimento vai exercer influência nas relações de trabalho, na qualidade do mesmo, e principalmente na formação do cidadão.


* Conselho Deliberativo: Associação formada por pais e professores; (está acima da APP) reúnem-se e tomam decisões a nível de escola, tem todos os poderes para isso.
Cristiane Pescador Tonetto   

Trabalho aceito (Fabiana)

Decisão

Professora Lídia e eu sempre fomos boas colegas no trabalho, amigas de festas. Hoje, sou a diretora da escola e estou com um abaixo-assinado feito pelos pais e alunos pedindo o afastamento da professora por sua incompetência em sala de aula.

Este é um problema muito grave e de difícil solução. Até antes amigos. Por ser diretora tenho que fazer algo. Repreendê-la, conversar, pedir para que mude sua didática de ensino, não me adianta, pois várias vezes essa atitude já foi tomada.

Afastamento? Não sei, seu marido é advogado, a luta seria longa e dura na justiça. Lídia não é concursada, mas tem vários anos de trabalho, tem um nível de graduação excelente, além de seus inúmeros cursos de aperfeçoamento que trazem um bom conceito a nossa escola.

Me vejo diante de cruz e da espada. Se por um lado Lídia tem uma boa posição intelectual, por outro, não sabe transmitir isso a seus alunos, que já estão esgotados. Com toda a razão, pois querem e precisam aprender, já que na vida tudo tem que se prestar conta. Pois bem, as contas que os alunos prestam ao sair da escola são vestibulares, concursos que os encaminham para a vida profissional.

Pesando os dois lados da balança, chego a conclusão que a melhor opção é afastar Lídia da sala de aula. Porém, isto não significa afastá-la da escola. Darei outro cargo a ela, como por exemplo, orientadora ou secretária. Admitindo que esses cargos estão ocupados, fazer-se-á o quê? Em Escola do Estado tudo pode-se dar um jeito e na minha terão duas pessoas para organizar e melhorar as tarefas administrativas.

Fabiana Travessini   

Trabalho aceito (Luiz Carlos)

Quando tudo parece bom…

Quando colega de trabalho de Lídia e bom amigo, suspeitava de sua incompetência, não era concursada, mas era uma grande amiga, faziamos festas juntos, mas, falhei como amigo, vendo que ela era considerada assim na escola e não a aconselhei a se interessar e buscar o conhecimento que sua profissão exige, poi amigos são aqueles que nos mostram também os erros para melhorarmos.

Sendo uma escola estadual parte dos docentes não é concursada; e agora que assumi a direcção vêm à tona minhas suspeitas, com reclamações de pais e alunos, sou cobrado eticamente a zelar pelo aprendizado de meus alunos, e pega-me a pensar, como conseguir qualidade numa escola que paga mal e nem bem seleciona seus professores? e por querer o melhor, pretendo mudar esta situação, resolvo fazer a diferença, e acreditando que a meta de um bom professor é dar para seus alunos um futuro de qualidade, se bem que Lídia faz parte da excessão, e agora como resolver esta situação?

No caso de afastá-la posso arrumar uma grande e dura briga com amigos e marido dela, que é advogado.

A primeira vista temos a vontade de fazer tudo que queremos, ela é uma pessoa influênte, para afastá-la será difícil, mas a pressão dos pais e alunos não é fácil, Lídia está sendo meu maior problema, também não posso permitir que meus alunos sejam mal informados, logo penso em chamá-la para conversar e contar o que se passa, só que isso não resolve pois ela é incompetente para continuar a lecionar e precisa de qualificação.

Caso eu resolva assumir a briga, e pedir para mudá-la de setor ou afastá-la, certamente perderia a amiga, e poderei ser mal visto pela secretaria estadual de educação poi são amigos dela.

Como bom profissional e zeloso pelo que faço, tenho que tomar alguma atitude, pois se há alunos querendo aprender, é nosso dever fornecer-lhes condições para tal, mesmo que isso me custe uma amizade.

Por mais que a luta seja dura, a causa é nobre, só que isto arriscaria meu cargo, ao invés de a secretaria estadual de educação afastá-la, poderiam me afastar, pois são amigos dela. ..........

Luiz Carlos Leal Junior   

Trabalho aceito (Patrícia)

Agindo Racionalmente

Decidir o futuro de uma pessoa exige muita responsabilidade e reflexão. Essas desisões devem ser justas e evitar arrependimentos posteriores.

Um superior deve tomar atitudes que visam benefícios para o seu local de trabalho, levando em consideração as espectativas profissionais que se tem em relação a ele e procurando evitar ligação com aspectos pessoais.

No caso referido, a diretora deve expor, de maneira profissional, quais são suas expectativas, bem como dos alunos e seus pais, em relação ao trabalho da professora, e exigir dela num determinado prazo, que se adeque a essas espectativas. Não havendo melhora no desempenho da professora e persistindo a insatisfação de alunos e pais, a diretora deverá, sem deixar se levar por ameaças de um processo, e visando a qualificação do seu corpo docente, exonerar a professora, uma vez que ela deveria estar contribuindo para a formação dos jovens.

No ambiente de trabalho as pessoas tem que esquecer o que acontece fora dali e agir, tomar decisões, por mais difíceis que sejam, racionalmente e não levar em consideração as relações afetivas e sentimentais.

Patrícia Lara Marks   

Comentários (AS)
Aceitei todos os cinco trabalhos recebidos. O motivo principal: reconheço que o tópico é muito ingrato (eu mesmo gostaria de ficar bem longe dessas questões, tanto teorica quanto praticamente) e os autores merecem um crédito por pegar o desafio. Só no caso de Luiz Carlos que parece ter saido de pressuposto que “maior = melhor”, cortei um terço do seu texto e consequentemente corto um terço do prêmio – ele ganha só dois pontos. Gostaria muito que os autores se lembrarem da regra do jogo: O limite do tamanho é uma página (2.000 caracteres). O objetivo não era liberar a corrente de subconciência à la Joyce mas cuidar da melhora da sua expressão em português, pois (cito da introdução) o sucesso (do curso) entre as outras causas – tem a base em aposta na qualidade de português de nossos estudantes.

Não é a única discordância com as regras do jogo. Na descrição da situação digo: você não vai ter os poderes de um mágico ou um super-pokémon mas só Fabiana sugere uma solução que tem “o pé no chão”, os demais autores estão dispostos de usar os super-poderes para implementar as suas decisões enérgicas. Gozado, antes de formular o desafio conversei com dona Iracema, a diretora de uma dessas pessoas na escola. Ela continua sua responsável tarefa em uma das boas mas complicadas escolas do Estado e da conversa com ela entendi que quase nada poderia ser feito naquela situação…

Conversei com ela pois procuro analisar os detalhes antes de sugerir o tópico para a sua consideração. Isso não significa que fico desorientado quanto ao mundo real – o meu conhecimento dos casos concretos da Universidade leva às conclusões paralelas aos da conversa com dona Iracema, mas sempre pode-se supor que a específica da escola é diferente. Os casos que menciono (um deles do meu Departamento, infelizmente) poderiam ser descritos assim:
1) Um departamento emprega um professor temporário por período mais longo que deveria. Caso na justiça comum, o juíz manda efetivar o profissional para sempre, já que não é mais temporário.
2) A Universidade demite um dos professores por um escândalo causado por alcoolismo. O sindicato dos professores alega na justiça que a demissão foi causada não porque o demitido caia de bêbedo nas aulas mas porque era comunista. A justiça devolve o cargo para o demitido. Ele permanece tanto comunista quanto bêbado.
3) Um departamento reconhece que o comportamento de um professor é tão anti-ético e arrogante que ele não deve ser efetivado no cargo. A administração perde prazos, a justiça decide que ele deve ser efetivado.
4) Um departamento decide desfazer-se de um figurão que recebe salários mas não fornece serviços, já que durante longos anos de atividade política desacostumou-se de fazê-lo. O processo morre nas entranhas da administração.
5) Um departamento descobre que um colega deles mandado para Europa para se formar prefere os arredores de Floripa no lugar de gastar a bolsa e o salário em caros e frios países. Não assisti a fita inteira mas ficou claro que o carretel estava tão enrolado que nada concreto iria surgir nos próximos 50 anos.

Deve-se tirar conclusão desses exemplos que nenhuma atividade é sensata pois o que decência faz a “Justiça” desfaz? Não, creio que a conclusão estaria errada. No “mundo real”, isto é no meu exterior nada muda, mas há um importante processo no meu interior: a fixação dos valores e de capacidade de reconhecimento do certo e do errado. Se a gente não reagisse, poderia chegar a hora que traz as condições propícias para fazer o certo mas dentro da gente teria atrofiado o sensor que ajuda distinguir o certo do errado.

Formulando o tema estive curioso se alguém perceberia o seguinte: atuamos movidos por vários motores. Tanto faz se de natureza biológica ou cultural, eles estão capazes de fazer o imprevisível do que pode parecer óbvio. No caso aqui descrito o fator “fome” ( ou “dinheiro”) não se aplica muito pois o trabalho em escolas estaduais (universidades federais, repartições públicas) e remunerado por igual para competentes e incompetentes. Nada indica que o fator “sexo” seja aplicável no trabalho educacional. Ma há um fator igualmente poderoso que se chama “ambição” ou “amor próprio”. Creio que um administrador de raça, de talento, conseguiria criar uma situação em qual acontece o milagre e a professora Lídia começa dirigir (nos encontros de sábado e domingo?) um grupo extra-curricular ou um círculo de olimpíadas de física ou um torneio de canastra – sei lá, algo que tira-a de marasmo e aproxima aos alunos. Não daria certo? É difícil saber antes de tentar.

Uma correção.

Escrevi anteriormente que só um reitor desta Universidade não era de maçonaria. Os entendidos no assunto me corrigem dizendo havia dois reitores não oriundos desse grupo.

O sexto tema (para 4/VI/01)
Já aconteceu que os meus comentários introdutórios ao desafio eram incorporados no trabalho (sem me atribuir a co-autoria) e tratados como uma espécie de roteiro. Digamos que escrevo: “7 mais 6 é 13 – comente isso. Se você concorda como você entende o relógio que diz que 7 mais 6 é 1? Se você contasse nos dedos como você veria essa equação? [...]” – e leio nos trabalhos me mandados: “Se eu concordo com a equação então eu não entendo o relógio. Se eu conto nos dedos então eu tenho que aprender o que é 7 [...] ” etc. Por favor, antes de escrever pense um pouco. Depois de escrever – idem.

Deixei no xerox a cópia do artigo de Gilberto Dimenstein “Por que o diploma é uma bobagem” publicado no dia 12/XII/99 na “Folha de São Paulo”. Você tem algumas reflexões referentes à parte que trata de (quase) analfabetismo de estudantes universitários? Então fale.
Imagino variás possibilidades (desde a confirmação contundente: “o que um estudante lê é o rótulo da garrafa de cerveja” até a enérgica defesa: “para que ler Veja e parecidos se são comprados por políticos corruptos?”) mas lembro que valem argumentos e não declarações. Note também que o leitor de suas palavras não terá o texto de Dimenstein na mão portanto contestando ou confirmando você terá que citá-lo – de modo honesto, curto e informativo.

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Trabalho aceito (Alex)

Analfabetismo eletrônico

Estamos quase no século XXI. Era dos computadores, internete, Dvds e uma porção de inovações tecnológicas. Mesmo assim há quem deteste, odeie, não suporte ouvir a frase: avanço tecnológico. Curioso é que não são apenas as pessoas com menor grau de escolaridade que se vêem a beira dum abismo quando precisam usar o computador.

Numa dessas palestras realizadas no curso de matemática da UFSC ouve um professor que falou: “todos sabem que eu odeio computadores”. Meu Deus, pelo jeito esta máquina o feriu de uma forma tão profunda que ele ficou traumatizado. Interessante é que volta e meia ele falava que na internete tinha algo muito bom falando sobre um assunto de matemática.

Bem, o que quero mostrar com este exemplo? Simplesmente que o computador e principalmente a internete hoje em dia fazem parte integral da nossa vida. Não podemos fugir, não podemos despresá-la, ela já se tornou nossa companheira. Hoje em dia quem não sabe manuziá-la ou tem aversão a ela está sem dúvida deixando de adquirir muitas informações preciosas.

Existem aquelas pessoas que argumentam: é, internete possui coisas até muito interessantes, mas o conteúdo está em inglês! Pois é, mais um caso de necessidade nossa. Quem não sabe inglês provavelmente está perdido na sua vida profissional. Grandes pérolas não só da matemática, mas da literatura num todo estão em versão inglês.

Me pergunto neste momento: será que basta irmos para faculdade, lermos apenas os livros que precisamos estudar para as provas; procurar na interneteapenas algo necessário para entendermos melhor um conteúdo escolar (tentando encontra-lo sempre em português)? Creio que não. E mais tarde quando nos formarmos e ganharmos o diploma e tivermos que atuar no mercado super competitivo o resultado do que produzimos e adquirimos nos será apresentado de uma forma um tanto quanto cruel: “não estamos precisando dos seus serviços”.

Alex Deni Alves   

Trabalho aceito (Cristiane)

O Ensino e a Sabedoria

Em tempos passados o “sabio” era aquela pessoa que dominava a filosofia, a física, a matemática, e muitas vezes também a arte. Nesta galeria do saber que encontramos os grandes homens que geraram o princípio de toda a ciência moderna: Aristóteles, Pitágoras, Descartes. Porém com o advento do método científico, os homens logo perceberam que a especialização permitiria um avanço mais rápido do conhecimento. Este foi o momento que os sábios desapareceram.

O resultado desta especialização vemos hoje – a total falta de interdisciplinaridade e a incompetência quanto a qualquer campo que seja diferente daquele que consta no currículo. Enfim, as universidades geram mão de obra desqualificada, pois a conhecimento que se passa aos alunos é direcionado a ponto de ignorar questões filosóficas e sociais. Em resumo, forma-se um profissional que consegue resolver problemas teoricamente, mas não consegue encaixa-los na realidade.

Aquele que se destaca hoje em dia é justamente aquele que em seu trabalho consegue aplicar os conhecimentos não específicos de sua área. Administração, psicologia, sociologia são básicos para qualquer profissional que deseja crescer em seu trabalho. Por incrível que pareça, muitas vezes a solução para um problema pode ser encontrado em um livro de literatura, em uma folha de jornal. Um dos cientistas da NASA se baseou na bíblia(!) para projetar os trens de pouso das espaçonaves.

Solucionar este grave problema não é tão fácil, pois exige empenho dos estudantes e dos educadores, principalmente daqueles do ensino fundamental, para que se quebre toda essa estrutura do conhecimento científico, que é artificial e limitada. A busca deve deixar de ser por um currículo de notas altas, para se tornar uma busca pela sabedoria.

Cristiane Pescador Tonetto   

Trabalho aceito (Priscila)

Analfabetismo Universitário

O analfabetismo universitário é a nossa realidade. E a culpa é jogada de um lado para o outro… sem que ninguém admita nada.

Cada um se preocupa com o seu curso e “não está nem aí” para o resto. A pontuação em provas é preocupante, mas não essencial. O que vale é a sua “bagagem cultural”. suas definições, conhecimentos teóricos, aplicações, pesquisas…

A universidade é um lugar que “fervilha” conhecimentos. E a nós, basta disposição para buscar. E esse é o nosso futuro: buscar, pesquisar, atualizar-se… De nada adianta termos um diploma emoldurado.

Há exigências, para que os profissionais sejam mais criativos, flexíveis e integrantes. Conhecimentos simplesmente técnicos de nada adiantarão.

É preciso inovar. Trabalhos em grupos, trocas de informações, pesquisas, conhecimentos, cultura é o que nos “alfabetiza”. O diploma é uma consequência.

Priscila Cardoso Calegari   

Comentários (AS)
Recebi 6 trabalhos. Três deles considero irritantes e confusos – e esses três textos são aceitos e expostos acima (afinal, se quero indicar que discordo com quase tudo de um texto, não posso citar 80% dele dizendo que isso foi escrito por “um certo autor”). Três outros são do tipo “está certo, ele tem razão” – mas a tarefa não era votar a tese do Dimenstein mas aprofundá-la (ou rejeitá-la) acrescentando suas próprias reflexões.

Se deixei intactas as idéias de autores (por mais reacionárias ou anticientíficas que me pareçam), não havia motivos para corrigir o seu estilo ou sua ortografia. Em outras palavras: favor, não culpe a minha datilografia.

O que separa os trabalhos aceitos dos demais é (além da mencionada propriedade de me chatear) uma tentativa de expor uma diagnose ou propor um tratamento. Já é algo melhor do que um simples “pois é, c'est lá vie”.

Mas… há algo nesta caixinha ou é só uma embalagem? Por exemplo, Priscila menciona três vezes “pesquisa” sem explicar de que se trata. É procedimento perigosamente próximo a um discurso de político: todo mundo saí satisfeito pois ouviu palavras bonitas. Se “pesquisa” é a palavra-chave e as coisas não vão bem então quais são as forças do mal que são contra pesquisa? UFSC? Governo? Natureza humana?

Discordo da idéia que “conhecimentos simplesmente técnicos de nada adiantarão”. Enorme parte das nossas atividades exigem justamente “conhecimentos simplesmente técnicos” e a sociedade (entre os outros motivos) não funciona bem por falta de adequados conhecimentos técnicos (desde a polícia que mira o bandido e atira no refém até os economistas que vendem por 2 bilhões algo que as firmas de fora querem comprar por até 15 bilhões). Considero artificial uma contraposição “conhecimentos técnicos – bagagem cultural”. Creio que na medida de se aprofundar em detalhes surge naturalmente uma necessidade de encaixá-los em um quadro maior; a alternativa é de afogar-se neles.

Com respeito a falta de interdisciplinaridade indicada por Cristiane – já ouvi as palestras que falavam sobre interdisciplinaridade, multidisciplinaridade e pluridisciplinaridade e tenho fortíssima impressão que nessa densa sopa de palavras falta um único pedaço de carne. É um prato cheio para alternativistas, holistas e outros “istas” que atacam ciência sem se arriscar declarando oficialmente guerra a ela – mas quando trata-se de ultrapassar os limites de uma disciplina só, o nome antigo era a “erudição” e nas obras de popularizadores que menciono alguns parágrafos abaixo pode-se ver como fazer isso preservando a postura de cientista.

Você conhece a história do sonho de August Kekule? Cito a Encyclopaedia Britannica:“Uma noite de 1865 Kekule sonhou com a molécula de benzeno como uma cobra mordendo o próprio rabo em movimento giratório. Dessa visão nasceu o seu conceito de anel de benzeno com seis átomos de carbono”. Bem, o relato da Cristiane sobre o engenheiro da NASA e muito citado em livros com enfoque de “ciências ocultas” mas note que aqui a entrada dele (como expoente dos que ultrapassam os limites da sua área) é pouco justificada: ele trabalhou na NASA como engenheiro e não como um historiador ou teólogo – e dizer que ele se baseou na Bíblia seria tão acertado como sugerir que o avanço que Kekule deu na química orgânica foi devido ao estudo interdisciplinário dele em biologia dos reptis.

É de duvidosa validade a condenação generalizada na frase “as universidades geram mão de obra desqualificada” – depende da Universidade, do curso e dos indivíduos. Além disso não acredito que procura-se “ignorar questões filosóficas e sociais” – antes de mais nada: tocá-las no primeiro semestre pode ser um pouco prematuro; um dos mais fascinantes cursos da UFSC que mergulha profundamente em questões de filosofia de ciência (“Filogenia Animal”, dado por Kay Saalfeld) exige leitura semanal de (no mínimo) 40 páginas de textos condensados e baseados em outros textos; adivinhem quantos estudantes há na sala? Finalmente, quando alguém fala: “que se quebre toda essa estrutura do conhecimento científico, que é artificial e limitada”, penso: já vi este filme. Chamou-se de “Revolução Cultural” na China – os adolescentes quebrando artefatos e estruturas milenares que nem conheciam nem entendiam – e em consequência atrasou o desenvolvimento da China por umas gerações.

E qual seria o critério que levou Cristiane escolher aqueles três pensadores – e não quaisquer outros do grupo de um milhão de nomes? Seria a reminiscência de nomes que cairam nos últimos meses no meu curso? Tudo bem, cada escolha seria questionável, mas de onde veio a estranha definição do “sábio”? Parece-me que um candidato para sábio não precisa ser um cientísta ou alguém quem modifica os rumos do mundo. É se é verdade que com a especialização a versalidade virou mais difícil, não é verdade que com a chegada de especialização sumiram os impressionantes figuras que destacaram-se em várias áreas. Exemplos próximos ao coração de um matemático? Bem, que tal Bertrand Russell, John von Neumann, Igor Shafarevich ou Henri Poincaré? E para descobrir se merecem uma medalha de sabedoria tais pessoas como John Kenneth Gailbraith, Jacob Bronowski, Stephen Jay Gould ou Ian Stewart, ha um caminho só: lendo os seus livros.

O que me leva às observações de Alex. Ler – mas na internete.

Questão de ordem. “Internete”? Não gostei dessa rendição fonética. Mas da “Internet” também não gosto. Não é por misturar a raiz latina “inter” com germânica “net”. James, o filho do Dr.Paul Otterson, me fez perceber que o nome teve sentido quando interligava-se várias redes locais – mas tendo a rede global não se tem mais “inter-rede” mas uma rede. Prefiro então a “Rede”.

Agora, o mérito. Não estamos quase no século XXI, já vivemos nele.

Parece que Alex ficou muito impressionado com a frase de Dr.Eliezer. Então (sem fazer o papel do advogado dele) menciono que já há tempo ouvi dele elogios (justificados, acho eu) sobre os materiais do site www.cut-the-knot.com/ ou do John Baez. Portanto, não se trata de um professor-dinossauro tecnológico. Mais provável que é a questão de um estudante que cai em uma provocação fácil.

Talvez Dr.Eliezer estava tentando lhe alertar de algum perigo que você não enxerga? Por exemplo, sobre os gerentes de bancos que não sabem justificar um cálculo esdrúxulo e dizem: “o computador diz assim”? Sobre a biblioteca que não empresta os livros pois “o sistema caiu”? Ou sobre os matemáticos que menos discutem as idéias junto ao quadro-negro pois cada um está algemado ao seu computador?

Mas em questão principal, sobre o hino de nova era… É difícil falar sensatamente sobre as modificações trazidas por novas tecnologias. Conheço só dois livros que me impressionaram e deixaram no cérebro algo que não passa após alguns dias. O primeiro é “A Décima Musa” de Karol Irzykowski – um pensador bastante destacado para constar na Encyclopaedia Britannica mas tão esquecido que foi um golpe de sorte de achar na juventude o livro dele (sim, em polonês) escrito em 1924. O segundo, de 1992, “Technopoly” de Neil Postman, é mais acessível (tecnica e linguisticamente). Irzykowski escreveu sobre o cinema como arte – e como fator acusado de depravação da sociedade. Postman escreveu sobre várias tecnologias – desde a escrita até a TV. Há também interessantíssimas coisas de Andrew Odlyzko sobre a Rede.

Quanto a mim, não vou me aventurar em tentativa de discutir algo tão carregado de emoções e de dificuldades conceituais. Noto apenas que raramente os autores (ou editoras) ponham os livros na Rede – no máximo aparece uma amostra que diz: “me compre”. (O projeto “Gutenberg” é uma maravilha – mas trata-se de obras cujo copyright já venceu.) Além disso, compilando o meu CD-ROM “Math Landscapes – tour guided by Andrzej Solecki” (quase-quase pronto) constatei que dos matemáticos da primeiríssima linha a maioria não tem qualquer home page. Parece claro: chegaram a ser gigantes pois não perdem tempo com os fatores secundários.

Finalmente: “o computador e principalmente a internete hoje em dia fazem parte integral da nossa vida”? Em que sentido? Que a administração tem controle imediata das minhas despesas do ano 1997? E do meu consumo de água? Mas lembre-se que 95% da população não está “plugada” e nem tem real necessidade disso. Se não falamos sobre um relógio, a máquina de lavar ou forno de microondas mas sobre o PC então o computador foi enfiado na garganta do “cidadão estatístico” por um time histérico de jornalistas e revendedores de joguinhos sob comando do bispo Bill Gates – e atingiu basicamente a molecada. Consequência? Antes os jovens não leram pois gastavam 4 horas por dia assistindo TV. Agora não podem ler pois estão assistindo 4 horas por dia TV enquanto jogam no computador – e quando desligam TV ligam-se em sites que exibem algo tido como arte e cultura (tido pelas pessoas que nunca tinham visto uma peça de tearto ou um quadro em museu e nem leram um texto acima de 10 páginas). E os trabalhos escolares aparecem com “layout” de gosto duvidoso mas com conteúdo imune às modificações

Que tal admitir por um segundo a hipótese que o espantoso avanço tecnológico afasta os jovens da cultura e dos conhecimentos? (“Conhecimento” é a questão da estrutura, não de volume. No caso contrário nas universidades estudar-se-ia as listas telefônicas de grande SP.)

O sétimo tema – O último do semestre (para 2/VII/01)
Alguém me sugeriu que deveria escrever sobre a diferença entre a escola de segundo grau e a universidade – mas acho que você é um autor mais adequado para esta tarefa. Diga o que você descobriu nesses 4 meses. E por favor, não me conta o que diz von Humboldt e o que você achou na Internet sobre o enfoque de Piaget. Quero ouvir sobre a sua experiência.
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Trabalho aceito (Alex)

Que sufoco!

No segundo grau sempre busquei ser um exímio estudante. O terceiro ano foi, em especial, o período que mais me dediquei. Estudei tudo que podia com intuito de ser aprovado no vestibular. Confesso que fiquei, no ano passado, quase todos os dias sentado numa cadeira lendo e resolvendo exercícios.

Meus conhecimentos quase que se igualavam aos dos meus professores, por isso resolvia todas as provas com a maior tranqüilidade. A cada dia ficava mais convicto de que queria lecionar matemática. Sim, pois isso é o que sempre sonhei.

Entrei na faculdade! Que felicidade! Meus primeiros momentos foram de entusiasmo. Porém nada foi tão fácil assim durante os quatro meses seguintes. Tudo era muito complicado (falo em todos os sentidos), difícil de habituar-se.

Disciplinas como a geometria, por exemplo, que antes me agradava tanto, agora me parecia um terror. Isto porque no segundo grau os teoremas eram usados, digamos, como axiomas. No entanto na universidade era preciso que se provasse esses teoremas. Fundamentos I foi outra que me deixou apavorado. Tudo era muito distinto do que já havia visto. Antes eu só usava as fórmulas sem maiores questionamentos. Agora precisava entender de onde vinham.

O próprio relacionamento com os professores era diferente com os do segundo grau. O conhecimento que os professores universitários mostravam ter era tanto, que eu tinha até vergonha de conversar com eles amedrontado dos possíveis erros lingüísticos que cometeria só pelo nervosismo.

Senti que na universidade existe a exigência, a cobrança e até mesmo uma certa pressão psicológica, coisa que não costuma haver no segundo grau. Mas, hoje, acho necessário.

Confesso que inúmeras vezes tive vontade de desistir deste curso. Graças a Deus não o fiz! Continuo estudando da mesma forma que antes!

Tempo passado sinto que tudo foi muito bom nessa nova etapa. Novos conhecimentos adquiridos, agora com a segurança de ter apreendido e não decorado. Vejo que mudei tanto, que tive inclusive coragem de expor meus sentimentos de apreensão quanto a uma disciplina para um professor, coisa que eu nunca havia feito.

No entanto tenho consciência de que tudo que passei e com certeza passarei é e será muitíssimo necessário para minha vida. Se quero que ela seja boa preciso fazer o melhor.

Alex Deni Alves   

Trabalho aceito (Alexandra)

Tempo é estudo

Depois de entrar para uma universidade é que descobri que a faculdade não é a simples continuação dos estudos. Aqui tive que buscar o conhecimento dos conteúdos.

Uma das primeiras dificuldades encontrada para mim, foi a de ter que ir atrás de livros para entender a matéria, pois os professores apenas dão o conteúdo a ser estudado, é claro, explicam, mas isso não basta, e é necessário um aprofundamento maior. Na escola já era diferente, porque não precisava saber além daquilo ao que os professores passavam para nós, não era a intenção deles cobrar nada a mais que aquilo.

Outra passagem difícil é a de escrever todo a raciocínio usado em uma conta, numa linguagem puramente matemática. Eu nunca fui acostumada a fazer isso, então foi um pouco complicado aprender, já que na época do 2º grau a preocupação era apenas achar o resultado certo, sem se importar com os métodos usados.

Em todos os meus anos de escola, a biblioteca foi um lugar em que raramente freqüentava, em compensação hoje, é raro o dia em que não apareço por lá. ou para estudar, ou para buscar um livro, tanto faz, sempre tem algo pare se fazer.

As diferenças são muitas do antes e o depois que comecei a fazer uma faculdade. A rotina mudou totalmente. Eu que não estudava nos finais de semana, agora estudo até no domingo.

Alexandra Duarte Cândido   

Trabalho aceito (Cristiane)

Pequenas Mudanças

Existem algumas diferenças entre o ensino médio e o universitário, não sendo, porém, nenhuma tão significativa quanto o esperado. O aprofundamento da matéria é óbvio, tendo em vista que este é um ponto especial de (imagino) todos os cursos. Este aprofundamento exige, por sua vez, uma estrutura muito mais avançada. Aí se incluem as bibliotecas (com atenção especial às setoriais dos cursos), os laboratórios.

Mas existe também a especialização, por exemplo, no curso de matemática, desaparecem disciplinas como biologia, geografia. Este é um ponto fundamental dos cursos universitários: deixa-se de lado algumas áreas do conhecimento para dar mais valor à(s) outra(s), que provavelmente serão mais requeridas pelo futuro profissional.

Isso faz lembrar que. apesar do desaparecimento destas matérias, elas não deixam, de forma alguma de serem essenciais (foi por este motivo que elas foram estudadas no segundo grau) e merecem ainda o interesse do aluno, que muitas vezes esquece-se disto, pois tem que estudar para as disciplinas curriculares.

A busca pelo conhecimento, por parte do aluno, torna-se necessária assim que ele entra na universidade; pois o professor nem sempre passa as informações de forma “mastigada” – a interpretação passa a ser parte do aprendizado e dever do aluno (o que já devia ser estimulado desde o princípio da vida estudantil).

Apesar destas mudanças, um aluno de segundo grau pode passar ileso a grandes mudanças psicológicas durante o período de estudos universitários, já que pequenas mudanças podem ser adequadas (não ideais) para completar o curso.

Cristiane Pescador Tonetto   

Trabalho aceito (Débora)

Expectativa e a Realidade

Desde que o aluno entra em uma escola pela primeira vez, é posto em uma verdadeira lavagem cerebral, onde todos mostram que a faculdade é “a terra prometida”, e que é para isso que deve estudar.

A vida escolar segue, e quem aplicou-se um pouquinho, passa sem problemas, mas caso contrário, não tem o porquê de se preocupar o professor correrá, desesperadamente, dando-lhe chances, pois afinal: quem é louco de ficar em janeiro dando aula. Então quando, o aluno, chega no terceiro ano, bate um remorso (e pressão dos pais) e resolve estudar, imagina-se como Indiana Jones, e os outros candidatos, são bandidos querendo chegar no “tesouro” antes dele, mas, como em todo filme, em recompensa ao esforço, temos um final feliz: ele passa.

Então, vem o maior engano, não é um final, é apenas o começo de uma longa jornada, que para vencer, dedicação é a palavra-chave. Aqui está a grande diferença entre o segundo grau e faculdade: ninguém corre mais atrás do aluno, a aprovação está em suas próprias mãos.

Outros pontos de diferença são que os professores não fingem saber, e não se importam de serem questionados, há acesso a um acervo didático que facilita o aprendizado, ajuda às dúvidas com monitores e professores e uma estrutura para permanecer-se o dia na faculdade, pois antes ficava-se o dia todo na escola, só em época de gincana.

No meio de tanta diferença, essa “terra prometida” pode assustar alguns, devido estes não saberem o que os espera, então surgem as desistências, e tudo aquilo que era para ser uma realização, torna-se em dúvida, se é realmente isto que se quer para a vida toda.

Está claro que nos falta preparo para enfrentar uma faculdade, mas com todas as diferenças, uma situação não muda: professor explicando lá na frente, alunos sentados, alguns entendendo, outros esforçando-se para não dormir, outros conversando, mas no fim, todos respondem a chamada.

Trabalho aceito (Fabiana)

Universidade x Escola de 2º Grau

Na escola de segundo grau não tive muita preocupação em aprender mesmo a matéria, o mais importante para mim era passar de ano. Estudei em escola pública, onde a maioria dos professores não eram mestres e poucos haviam terminado a graduação. Tive um segundo grau que considero fraco, pois muitas matérias importantes não cheguei a conhecer.

Agora na universidade, vejo que já está mais que na hora de correr atrás do tempo perdido. Tenho que me dedicar, aprender buscar. Escolhi uma profissão e estou me preparando para enfrentar o mercado de trabalho.

Percebi como é importante estudar em grupo, estar em uma Universidade conceituada, com bons professores. Nesse semestre acordei um pouco tarde, sendo que as minhas notas não são muito boas em algumas matérias. Estou estudando muito para não perder o semestre. Afinal, sei que vale a pena cada segundo dedicado, pois somente eu posso construir o meu currículo universitário, me tornando assim uma boa profissional, tendo domínio sobre a atividade que irei exercer.

Fabiana Travessini   

Trabalho aceito (Felipe)

Escola da vida

Não vou negar que senti uma enorme diferença entre o 2º grau e a faculdade pois até quase a metade do semestre não sabia nem como estudar para as provas. Não imaginava que teria tantas dificuldades.

No meu 2º grau fui um dos melhores alunos da turma e acreditava que era bom mesmo, estudava para as provas na véspera e sempre obtinha ótimos resultados, nunca fiz muito esforço para tirar notas boas e ainda levava o título de “CDF”.

Agora na faculdade percebi que as coisas não são bem assim, formar grupos de estudos, estudar aos sábados, domingos, dedicar-se ao máximo e as vezes nem obter bons resultados, tudo isso é uma grande novidade para mim e que nunca presenciei no 2º grau.

Não estou arrependido de estar aqui, é muito bom estudar numa universidade, apesar de ser como dizem “muito puxado”, mas quem disse que na vida é diferente, tem que ser desse jeito para termos certeza de que estamos sendo preparados para o mundo.

Felipe Luiz Valério   

Trabalho aceito (Lauri)

A mudança do 2º grau para a universidade

Quando penso que estou aqui, as vezes acho que não é verdade, pois o caminho trilhado para chegar onde me encontro hoje, não foi fácil. Desde muito novo, tive que ajudar meus pais nos serviços da lavoura, nosso único meio de sobrevivência. Ao completar a 4º série do ensino fundamental, fui obrigado a parar de estudar em função da falta da escola onde morava e de não haver transporte até o centro do município. Depois de sete anos com uma melhora considerável das condições de acesso à escola, voltei a estudar numa escola estadual do interior do estado, onde lá acabei de cursar o ensino fundamental, além de cursar todo o ensino médio. A escola apesar de não ter muitos recursos e precariedade quanto ao quadro de composição de professores reconheço que foi de extrema importância para minha formação enquanto cidadão, pois apesar das dificuldades encontradas como preconceito, fui sempre um bom aluno, sendo considerado o melhor aluno do colégio, chegando sempre a meta máxima nas provas. Muitas vezes obtive o mesmo conhecimento dos professores, pois muitos deles possuem apenas o segundo grau.

Fiz vestibular, passei com facilidade, hoje estou aqui, onde é bem diferente, tenho professores capacitados, que realmente sabem transmitir seus conhecimentos aos alunos, capazes de formar pessoas competentes, com capacidade de ensinar seus alunos nos próximos anos.

No começo enfrentei dificuldades, até me adaptei a este ambiente; hoje, depois de quatro meses, já me sinto melhor, entendo o que os professores falam, sendo que estou mal em uma disciplina, nas outras irei passar com facilidade, mas em fundamentos também espero me recuperar nas provas que faltam, para isso estudo bastante, pois não quero abandonar o curso, foi é isso que quero para mim.

Lauri Beppler   

Trabalho aceito (Luiz Carlos)

Todo esforço tem sua recompensa

Hoje, na primeira fase de Universidade, já posso concluir a diferença entre o ensino atual e o de segundo grau.

Como escolhi a área de matemática, faço estudos mais aprofundados e específicos nesta área, não obstante no segundo grau tive uma base elementar de cada disciplina.

Quando se tem uma base razoável de segundo grau tem-se razoável aproveitamento nas primeiras fases do ensino superior, mas com determinação e empenho pude aprender e me aperfeiçoar nas disciplinas até o momento cursadas.

Em meu segundo grau, talvez por tê-lo cursado somente em escola pública, não pude ter todo conteúdo, mas em meu curso pré-vestibular vi o quanto não aprendi e fui em busca destes conteúdos antes não vistos e consegui aprende-los com certo êxito.

O ensino superior nos exige capacidade de correr atrás do aprendizado, e quem não tiver interesse provavelmente não será bem sucedido, enquanto no segundo grau tínhamos a matéria “já prontinha para ser degustada”, hoje temos que “ir a caça de nosso alimento”.

Atualmente percebo o quanto faz falta o empenho e um bom colégio para um estudante ter bons resultados em sua vida.

Luiz Carlos Leal Junior   

Trabalho aceito (Patrícia)

Uma nova experiência

Entrar em uma Universidade Federal é o sonho de muitos jovens, devido ao fato de elas terem bons conceitos e de ter um destaque maior no currículo de um graduado.

Como todos os estudantes, eu também sonhava em estudar em uma Universidade Federal, e aqui estou. Quando terminei o segundo grau imaginava a Universidade bem diferente, pensei que teria o mesmo desempenho que tive durante os onze anos que dediquei-me à escola. Não poderia ter pensado dessa forma, pois estou fazendo curso superior e a cobrança de nossos mestres é maior.

Cursar Matemática na Federal é uma experiência nova para mim. Não estudei nos primeiros meses de aula o suficiente para obter o desempenho que gostaria. Agora sei que não é possível obter sucesso ao estudar sozinha, tentando discutir os problemas comigo mesma.

Um fato que chamou minha atenção e que de certa forma me deixou irritada, foi a disputa entre os graduandos. Nesses quatro meses de convívio com pessoas novas, descobri que algumas não gostam de expor seu aprendizado aos colegas, e também tem aqueles que expõem mas com certa indisposição.

Agora está terminando as aulas e estou refletindo sobre tudo o que aconteceu em relações às matérias que cursei. Estou consciente que no próximo semestre meu esforço e desempenho tem que chegar ao limite.

Patrícia Lara Marks   

Trabalho aceito (Piersandra)

Do segundo Grau para Universidade

Existe uma grande mudança do segundo grau para uma universidade.

No ano de 2000, quando eu ainda estava no segundo grau, morava com os meus pais, conhecia meus colegas de aula desde a minha infância, havia um melhor relacionamento com os professores, pois convivíamos juntos o ano todo com uma mesma disciplina. No colégio onde eu estudava existiam normas a serem cumpridas, horário para entrar e para sair da sala de aula, e se as normas não fossem cumpridas os alunos eram punidos. No segundo grau, tinha a responsabilidade de escolher uma profissão e passar no vestibular.

Entrando na faculdade senti muitas diferenças, comecei a morar longe dos pais, familiares e amigos, percebi que as minhas responsabilidades seriam bem diferentes.

Na faculdade temos apenas um semestre para conviver com cada professor e com cada disciplina, os professores são mais rígidos e o aluno tem que aproveitar o máximo do conhecimento de seus mestres, pois o que eles estão lhe passando, será o seu futuro daqui alguns anos. Na faculdade os professores explicam a matéria uma vez e o aluno depois tem que se aprofundar mais em livros e estudando em grupos. Na universidade cada aluno vai ser responsável pelo seu horário, participar das aulas do início ao fim, estudar todos os dias para todas as disciplinas, pois não adianta estudar mais um dia antes das provas.

E assim a cada semestre conhecerei professores novos, tendo a certeza que me formarei em uma ótima universidade.

Piersandra Simão dos Santos   

Trabalho aceito (Wanderley)

Um grande avanço

Sempre gostei de matemática, no segundo grau tirava notas boas, meus professores com toda dificuldade existente sempre me estimulavam para prosseguir, buscar algo mais profundo, uma faculdade.

Quando fiz o vestibular tinha certeza que estava fazendo a coisa certa e quando então nem acreditei. Imaginei de imediato a universidade com qualidade no corpo docente, de uma biblioteca que suprisse minhas aflições e angústias, dificuldades a qualquer momento.

Bom, estou nesta universidade, perto das melhores e fiéis fontes de conhecimento, meu horizonte se expandiu, minha visão em relação a matemática mudou, sei que posso melhorar e muito. Que diferença em relação ao segundo grau, onde era dado tudo mastigado, pronto e acabado, não éramos estimulados a pesquisar, a criar soluções diversas, a entender o porque daquilo que estávamos fazendo.

Durante esse período no curso de matemática tive a certeza de que é isso que quero para mim, quero ser um matemático e acredito que aqui, na Universidade Federal de Santa Catarina poderei realizar esse sucesso.

Wanderley Pivatto Brum   

Comentários (AS)
Só agora, após 2 meses, consigo preparar os seus 11 textos e colocá-los na Rede. Os autores ganharam os seus pontos e quem sabe se não acharam o assunto encerrado – mas considero esse material muito interessante. 11 pessoas – isso já é uma significativa amostra estatística e eloquente exposição de estado de espírito dos calouros do ano 2001.

Há uma diversidade de pontos de vista, se bem que sem opiniões conflitantes. Mesmo se uma ou duas pessoas dizem que “não há tanta diferença” e as demais falam justamente sobre as diferenças, um olhar mais cuidadoso revela que não se trata do mesmo enfoque. Parece que todos enxergam uma continuidade de métodos e objetivos mas consideram diferente a qualidade e a intensidade do processo.

Não ficaria surpreso se algum orgão administrativo pegasse o conjunto dos seus depoimentos e o incorporasse em algum álbum chamado A beleza da UFSC. Tanto pela qualidade dos elogios quanto pela falta de reclamações vocês estão dando os melhores parabéns que um centro de ensino pode ganhar. Se bem que as suas opiniões podiam se modificar um pouco por causa da greve que os incomoda há várias semanas…

Em soma: há espaço físico e há materiais na bilioteca. O corpo docente é competente e tem boa vontade – as atitudes que vocês acabam de aceitar recentemente como suas e que provavelmente provêm desses educadores formam um belo arco de idéias e propostas que merecem os aplausos: o trabalho em grupo, o esforço até os limites da própria capacidade, intensivo e extensivo convívio com livros e exercícios. O que pode ser feito então, além de distribuir os parabéns e os sorrisos para todos os lados e talvez cantar em uníssono o hino da vitória?

A alegria é apropriada e permitida, mas uma reflexão serena pode ser mais prudente. O problema é que tudo isso é muito vulnerável, portanto use quando dura. A chamada carpe diem permite mais de uma interpretação. A mais divulgada é de usufruir os prazeres do dia. Mas a chamada de Horácio “aproveite o dia” foi seguida por um aviso nec minimum credula postero – “sem confiar demais no amanhã”. Portanto, talvez: “use o dia para se precaver contra o amanhã”.

É um tom de pessimismo? Não. Apenas uma constatação. É um bom Departamento. Mas nada garante que assim ele permanecerá para sempre – e certamente o seu passado (onde já cabiam três professores titulares sem doutorados, pesquisas ou renovação de conhecimentos, onde havia muito bate-boca e intrigas, onde usava-se os estudantes como uma massa de manobras) aconselha ter muito cuidado. “As forças do mal” não são os personagens em capa preta e voz rouca. Uma força do mal tem uma pequena morada em cada um de nós e em situação ruím ela pode tomar mais e mais lugar.

Por exemplo: algumas das pessoas que entraram em greve são os excelentes educadores – mas em dada situação estão capazes de dizer: “virem-se. Eu estou cheio disso.” Qual é a garantia que piorando os salários alguns dos melhores profissionais não mudarão para qualquer lugar do planeta? A matemática é a mesma e se os salários forem bem melhores…

Tem o espaço e os livros porque tinha dinheiro. E verdade que tinha muito mais do que dinheiro. Quem lembra-se hoje que havia aqui um tal de Dr.Dejter que bateu na porta do consulado alemão para obter uma volumosa doação em caríssimos livros de Springer Verlag? É uma das várias bonitas histórias do passado do Departamento. Mas a palavra-chave é “dinheiro”. Se a biblioteca decair, se sumirem os periódicos, vários pesquisadores buscarão um centro que procura dar o apóia à pesquisa. Sim, muito dinheiro foi desperdiçado sem sentido – lembro das excursões dos componentes do Departamento que viajavam para IMPA mas chegavam só até Copacabana – e é bom que o Ministério não permite mais essas indecências – mas cortar as verbas de pesquisa e das bolsas não resolve os problemas do passado.

Em outras palavras: use cada aula, cada laboratório, cada consulta como se pudesse ser a última oportunidade de ter um ensino de qualidade e de graça. O futuro… Bem, como Niels Bohr disse: é muito difícil prever, especialmente o futuro.